terça-feira, 20 de março de 2012

Viver com medo

Eu sinto que o viver com medo, de qualquer espécie que ele seja, é - se posso empregar o termo - coisa má. Viver com medo é coisa má, porque gera ódio, desfigura o pensar e perverte toda a vossa vida. Portanto, é absolutamente necessário que o homem religioso seja completamente livre do medo, tanto exterior como interiormente. Não me refiro à reação espontânea do corpo físico, para proteger-se, que é natural. É normal, ao verdes uma serpente, dardes um salto - isto é, simplesmente, um instinto físico autoprotetório, e seria anormal  não ter tal reação. Mas o desejo, de se estar em segurança, interiormente, psicologicamente, em qualquer nível do próprio ser, gera medo. Podemos ver em toda a parte os efeitos do medo e compreender, assim, quanto é importante que a mente não seja, em tempo algum, um "terreno de cultura do medo".

Se estivestes escutando atentamente o que aqui se disse nesta manhã, tereis visto que o medo nunca se acha no presente, porém sempre no futuro; ele é provocado pelo pensamento, pelo pensar no que poderá acontecer amanhã ou daqui a um minuto. Assim, o medo, o pensamento e o tempo são companheiros; e, para se compreender e transcender o medo, é necessário a compreensão do pensamento e do tempo. Todo pensar comparativo deve cessar; toda ideia de esforço - que envolve competição, ambição, adoração do êxito, luta por tornar-se alguém - deve acabar. E, uma vez compreendido todo esse processo, não há conflito nenhum, há? Por conseguinte, a mente já não se acha num estado de deterioração, já que é capaz de enfrentar o medo e não é "terreno de cultura do medo"; Ora, esse estado livre do medo é absolutamente necessário, para que se possa compreender o que é criação.

Krishnamurti - A mente sem medo

quinta-feira, 8 de março de 2012

Energia

O fazer qualquer coisa, por mais insignificante que seja, requer energia, não é verdade? O levantar-se e sair deste pavilhão, o pensar, o comer, o conduzir um carro - toda espécie de ação exige energia. E com a maioria de nós acontece que, quando estamos fazendo alguma coisa, há uma forma de resistência que dissipa energia - a não ser que o que porventura estamos fazendo nos proporcione prazer, caso em que não há conflito, não há resistência na continuidade da energia.

Como disse antes, precisamos de energia, para estarmos completamente atentos, e nessa energia não há resistência,  uma vez que não há distração. Mas, no momento em que surge uma distração - no momento em que desejais concentrar-vos numa coisa e ao mesmo tempo olhar pela janela - há uma resistência , um conflito. Ora, o olhar pela janela é tão importante como o olhar para qualquer outra coisa - e uma vez percebeis essa verdade, não haverá então distração, nem conflito.

Para terdes energia física, deveis naturalmente tomar alimentos adequados, te a justa proporção de repouso, etc. Isto é coisa que vós mesmo podeis experimentar e não há necessidade de discutirmos a esse respeito. Mas há também a energia psicológica, a qual se dissipa de várias maneiras. Para ter essa energia psicológica, a mente busca estímulos. Frequentar a igreja, assistir a partidas de futebol, entregar-se à literatura, ouvi música, assistir a reuniões do gênero desta aqui - todas essa coisas vos estimulam; e se o que desejais e ser estimulado, isso significa que, psicologicamente, sois dependente. A busca de estímulo, em qualquer forma que seja, implica dependência de alguma coisa - de uma bebida, uma droga, um orador, ou de entrar numa igreja; e, por certo, a dependência de estímulo não apenas embota a mente, mas também ocasiona dissipação da energia. Assim, para conservarmos nossa energia, deve desaparecer toda espécie de dependência ou de estímulo; e, para ocorrer o desaparecimento da dependência, precisamos tornar-nos cônscios dela. Se, para ter estímulo, uma pessoa depende de sua mulher ou de seu marido, de um livro, de seu cargo no escritório, de ir ao cinema - qualquer que seja o gênero de estímulo - deve em primeiro lugar, estar cônscia disso. O aceitar simplesmente os estímulos e com eles viver, dissipa energia e deteriora a mente. Mas, se a pessoa se torna cônscia dos estímulos e descobre o significado que tem em sua vida, dessa maneira poderá ficar livre deles. Pelo auto-percebimento - que não é auto-condenação, etc, porém estar simplesmente cônscio, sem escolha, de si próprio - pode um homem conhecer todas as formas de influência, todas as formas de dependência, todas as formas de estímulo; e esse próprio movimento da ação de aprender dá-lhe a energia necessária para libertar-se de todas as dependências e de todos os estímulos.

Krishnamurti - A mente sem medo


Vazio

Interrogante: Não percebo como é possível viver-se num espaço vazio.

K: Minha senhora, está-me parecendo que nos estamos desentendendo. Lamento-o. Talvez isso se deva à minha escolha das palavras, que pode não ser boa como deveria ser, e talvez vós não compreendais exatamente o que entendo por "vazio". Mas, estávamos falando sobre criação.

Ouvi dizer que numa certa universidade estão ensinando o que chamam "composição criadora", "pintura criadora". Mas, pode-se ensinar a ser criador? A contínua prática de uma dada coisa pode dar nascimento ao espírito criador? Pode-se aprender de um professor a técnica de tocar violino, mas é bem óbvio que a técnica, por si só, não faz de um homem um gênio. Já quando um homem tem aquele espírito criador, este produzirá a técnica - e não vice-versa ( isto é, a técnica não pode produzir o espírito criador ). A maioria de nós pensa que, adquirindo a técnica, encontraremos a outra coisa ( o espírito criador ). Consideremos um exemplo muito simples, embora todos os exemplos sejam precários. Que é vida simples? Vida simples, dizemos, é ter poucas posses, comer muito pouco, ter minguados haveres, e abster-se de fazer isto ou aquilo. Na Ásia, um homem que anda de tanga e só toma uma refeição ao dia, é considerado um homem que vive vida muito simples; mas, interiormente, esse homem pode estar em ebulição, como um vulcão, ardendo em desejos, paixões, ambições. A vida simples desse homem é meramente uma ostentação exterior, que todos podem reconhecer e dizer "Que homem simples!" - Esse é o verdadeiro estado da maioria dos santos: exteriormente são muito simples, porém, interiormente, são homens ambiciosos que disciplinam a mente, que se obrigam a ajustar-se a um certo padrão, etc. Assim sendo, eu acho que a simplicidade deve, primeiro, vir de dentro, e não de fora. Analogamente, a criação não pode verificar-se por meio da expressão. Temos de estar no estado de criação, e não buscar a criação através da expressão. Achar-se no estado de criação é o descobrimento do Supremo, e isso só pode acontecer quando não há atividade do "eu" em nenhuma direção.

Voltando ao que disse aquela senhora, a respeito do vazio: Os mais de nós, embora exteriormente em relação uns com os outros, vivemos  no isolamento; mas não é sobre esse isolamento que falo. Vazio é coisa totalmente diferente de isolamento. Deva haver vazio entre vós e mim, para que possamos ver um ao outro; deve haver espaço mediante o qual possais ouvir o que estou dizendo, e vice-versa. De modo análogo, deve haver espaço na mente; isto é, a mente não deve estar atravancada de tantas coisas, que nenhum espaço reste. Só quando há espaço dentro da mente - o que significa que a mente não está "cheia" de atividade egocêntrica - só então é possível saber o que é viver. Mas, viver no isolamento - isso não é possível.

Krishnamurti -  A mente sem medo

quinta-feira, 1 de março de 2012

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