quarta-feira, 30 de maio de 2012

Medo


Quando vocês se apegam a alguma coisa, quando vocês se amoldam de conformidade com um padrão, manifesta-se o medo. Se, porém, buscarem o entendimento liberto da ilusão do tempo, então o temor desaparecerá. Quando estiverem livres do lucro pessoal que exige ideais para seu conforto, então o temor será destruído.

Para ficarem isentos do medo, tem de conhecer a si mesmos, as suas ilusões e vaidades, e perceber sua própria vacuidade de ser, precisa libertar sua mente do fardo da crença, da ânsia, da esperança e da lamentação. Então, existirá a verdadeira compreensão da vida.

Krishnamurti



Apego

A meta da emoções é o desapego afetivo. Ser capaz de amar sem apego – sem o desejo de posse, é a perfeição absoluta da emoção.

O apego não traz liberdade, traz somente o sofrimento, mais cedo ou mais tarde.

Não sabem o que o medo é?

Se, na sua casa, nada há de valor a que estejam apegados, então não temem o seu próximo, as suas portas e janelas permanecerão abertas. Mas o medo se encontra no seu coração, quando estão apegados; então coloca trancas nas suas janelas, então fecham à chave, as suas portas. Isolam-se.

A mente reuniu certos valores, tesouros, e pretende guarda-los.

Se o valor destas posses é posto em dúvida, há o despertar do medo. Pelo medo nós as guardamos zelosamente, ou vendemos as velhas e adquirimos novas, que protegeremos com maior astúcia. Damos a esse isolamento vários nomes.

Pergunto a vocês se tem algo precioso em sua mente, em seu coração, que estejam guardando. Se tem, então forçosamente devem criar paredes contra o medo, e esta resistência é designada por vários nomes – amor, vontade, virtude, caráter.

Vocês tem algo de precioso? Tem algo que você possa ser arrebatado, a sua posição, as suas ambições, os seus desejos, as suas esperanças?

Que possuem atualmente? Podem ter posses mundanas que tentam salvaguardar. A fim de protege-las tem o imperialismo, o nacionalismo, as distinções de classe. Cada indivíduo, cada nação está fazendo isso, gerando o ódio e a guerra. Pode o medo da perda ser totalmente removido? Todos os indícios mostram que ele não pode ser extirpado por uma proteção maior, um maior nacionalismo, maior imperialismo.

Onde há apego, há medo.

Krishnamurti

J.Krishnamurti - A verdade pode ser buscada?

Ação


Não é o tempo que traz a compreensão, mas a vigilância da mente para compreender, no presente. É impossível estar alerta, enquanto a mente estiver anuviada pela idéia do tempo, de crenças e ideais.

Buscarei explicar o que quero dizer por vigilância da mente. A experiência é, afinal de contas, o modo pelo qual, respondem aos incidentes da vida. Estar alerta é ser capaz de distinguir entre a pura ação e as reações, quer sejam positivas ou negativas. A reação positiva brota de sua própria individualidade intrínseca ou egoísmo, e a reação negativa parte do exterior. Toda ação que não é pura, é reação, pois é oriunda da sensação, tanto a positiva, como a negativa. A ação pura, livre de toda reação, é isenta de intuito ou incentivo e desprendida do centro de egoísmo.

Para compreender uma experiência no presente, para colher a sua frescura, devem ter a mente limpa de crenças, de ilusões. A compreensão plena de uma experiência, libertará vocês de toda experiência, que é o tempo. Quando a mente estiver liberta de crenças e esperanças, é quando pode estar alerta; tal mente não se coaduna, porque não tem personalidade, que é limitação. A menos que a mente esteja livre, terá uma idéia pré-concebida do que seja a verdade, deformando a vida segundo esse ideal, tornando-se incapaz de compreender o presente. Pois que a verdade não pertence a idéia, crença ou conceito algum, todas essas coisas são simplesmente a resistência criada pelo eu consciência. Se,  vocês se amoldarem no presente com a concepção da verdade, do futuro, estarão apenas pervertendo a vida.

Poderão dizer ainda: “Não devo ter ideal, inspiração ou incentivo algum?” Direi: não. Não, porque, se o tiverem, estarão apenas se conformando e em tal, não há entendimento. Enquanto que, se a sua mente se achar isenta dessas coisas, então compreenderão o presente, o seu pleno significado. Verão então que a sua mente desperta para essa plena inteligência, que é a verdadeira libertação de todas as ilusões da individualidade. A crença, mesmo quando faculte temporário consolo e conforto, é apenas um sinal de decadência. A mente, quando carregada de crenças, torna-se negligente e imitadora; não é rápida em sua adaptabilidade. Ao passo que a mente sempre alerta, essa renova-se. Não precisa de estímulo do interior e nem do exterior, pois todo estímulo é somente reação. Tal mente, assim livre, pode compreender a felicidade, a verdade.

Krishnamurti

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Busca da felicidade

Para onde forem, verão que as pessoas buscam a felicidade que é permanente, durável e eterna. São, porém, colhidas como peixe na rede –  rede má – das coisas transitórias que as rodeiam, pelos aborrecimentos, pelas atrações, antipatias, ódios, despeitos, por todas essas mesquinhas coisas que ligam o homem. É como se estivéssemos em um jardim onde há muitas flores. Cada flor se esforça por expandir-se, por viver e proporcionar seu aroma, mostrar sua beleza, seus desejos, por evidenciar ao mundo seu pleno crescimento. Durante o processo de desabrochar, de conquistar, de expandir-se, perde-se o homem no que é exterior. Surge daí a complicação, e ele tem de distinguir desde o começo o que é essencial, do que não é.

Krishnamurti

Culto

A tendência das pessoas para cultuarem a outro, seja esse outro quem for, destrói a inteligência; porém, o compreender e amar a outro, não está incluído no culto que nasce de um medo sutil. Só a mente limitada julga o outro, e uma tal mente, não pode compreender a ardente qualidade da vida.

Krishnamurti

O ideal

Como religiosos, que são, professam amar o seu próximo: é este o ideal.

Ora, o que acontece na realidade? O amor não existe, porém em lugar dele temos o medo, o domínio, a crueldade, todos os horrores e coisas absurdas do nacionalismo e da guerra. Na teoria, é uma coisa e, na prática, dá-se, exatamente, o oposto. Se, porém, pelo momento, deixarem  de parte os seus ideais e, realmente fizerem frente à atualidade; se, ao invés de viverem em um romântico futuro, experimentarem sem ilusões, aquilo que, de contínuo, está tendo lugar, consagrando-lhe, integralmente, a sua mente e coração, então agirão e conhecerão o movimento da realidade.

Krishnamurti

domingo, 27 de maio de 2012

O homem verdadeiramente civilizado

Sobre autoridade

Se um homem deseja obedecer e seguir a um outro, ninguém o pode impedir; porém, é o superlativo da falta de inteligência e leva a grande infelicidade e frustração.

Se aqueles de vocês que estão me ouvindo, começarem a pensar real e profundamente a respeito da autoridade, não mais seguirão a ninguém, inclusive a mim próprio. Como disse, porém, é muito mais fácil seguir e imitar do que, realmente, libertar o pensamento da limitação do medo, e bem assim, da compulsão e da autoridade. Admitir a autoridade é abandonar-se à influência de outro, o que implica sempre o propósito, o desejo de obter algo em retôrno; ao passo que na outra há absoluta insegurança; e como as pessoas preferem a ilusão do conforto, da segurança, seguem a autoridade com sua frustração. Se, porém, a mente discerne a ilusão do conforto ou da segurança, NASCE A INTELIGÊNCIA, o desconhecido, a essência da vida.

Krishnamurti 
Do livro: O Medo (1946)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O pensamento não pode compreender a vida integral

O cérebro é um instrumento de surpreendente sensibilidade. Incansável em sua atividade de captar, registrar, interpretar e acumular impressões, ele não para jamais de funcionar. Herdando do animal o instinto de sobrevivência e a busca de segurança física, o cérebro tomou-os como base de todas as suas atividades e projeções, tais como deus, a virtude, a moral, a ambição, os desejos, as exigências e os ajustamentos. Por ser extremamente sensível, o cérebro, com sua capacidade de pensar, passa a dedicar-se ao cultivo do tempo, do passado, do presente e do futuro. Com isto, ele tem a oportunidade de adiar a ação, de buscar a satisfação, de perpetuar-se através da busca do ideal e do preenchimento. Daí nasce a dor, a fuga na crença, no dogma, no misticismo, em toda atividade e nas múltiplas formas de entretenimento. 

A morte e o medo estão sempre presentes, obrigando o pensamento a buscar alívio e refúgio nas crenças, na esperança e nos conceitos, racionais ou irracionais. A verbalização e as teorias adquirem grande importância, servindo de base ao cotidiano e suscitando sentimentos e pensamentos condicionados. Por mais que se julgue profundo, o pensamento atua num âmbito bem estreito da vida. Seja ele hábil, seja experiente ou erudito, o pensamento é superficial. Como parte do todo, o cérebro, com sua incessante atividade, valorizou-se demais perante si mesmo e dos restantes fragmentos. Por serem a desintegração e a contradição suas características essenciais, é ele incapaz de perceber o todo. Acostumado a reagir e a pensar em termos de opostos, o cérebro vive até hoje no conflito, na confusão e no sofrimento.

O pensamento não pode compreender a vida integral. Essa compreensão nasce da absoluta imobilidade do cérebro e do pensamento, sem estar ele adormecido, embotado, pela disciplina e compulsão, ou hipnotizado. Extraordinariamente sensível, o cérebro pode permanecer imóvel e quieto sem que isto implique perda de sensibilidade ou capacidade de penetração. Surge o insondável mistério do incognoscível quando o tempo e a medida cessarem de existir.

Krishnamurti

terça-feira, 22 de maio de 2012

A História de Jiddu Krishnamurti





Jiddu Krishnamurti (telugu: జిడ్డు కృష్ణ మూర్తి) (Madanapalle, 11 de maio de 1895 - Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo e místico indiano. Entre seus temas estão incluídos revolução psicológica, meditação, conhecimento, relações humanas, a natureza da mente e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, política ou social.

Com seus três irmãos, os que sobreviveram de um total de dez, acompanhou seu pai Jiddu Narianiah a Adyar em 23 de janeiro de 1909, pois este conquistara um emprego de secretário-assistente da Sociedade Teosófica, entidade que estuda todas as religiões. Reza a tradição brâmane, a qual a família era vinculada, que o oitavo filho toma no batismo o nome Krishna, em homenagem ao deus Sri Krishna, de quem a mãe, Sanjeevamma, era devota; foi o que aconteceu com Krishnamurti, a quem foi dado o nome de Krishna, juntamente com o nome de família, Jiddu.

Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi 'descoberto' por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o 'Instrutor do Mundo', acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro.

Krishnamurti assim foi sendo preparado pela ST; algo, porém, iniciou sua separação de seus tutores: a morte de seu irmão Nitya em 13 de novembro de 1925, que lhe trouxe uma experiência que culminou em uma profunda compreensão. Krishnamurti em breve viria a emergir como um instrutor espiritual, e dito Mestre extraordinário e inteiramente descomprometido. As suas palestras e escritos não se ligam a nenhuma religião específica, nem pertencem ao Oriente ou ao Ocidente, mas sim ao mundo na sua globalidade:

"Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo () Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação. ()"

Durante o resto da existência, foi rejeitando insistentemente o estatuto de guia espiritual que alguns tentaram lhe atribuir. Continuou a atrair grandes audiências por todo o mundo, mas recusando qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre como se fosse de pessoa a pessoa. O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só pode acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um aprofundamento da consciência, para esse "vasto espaço que existe no cérebro onde há inimaginável energia". Essa energia parece ter sido a origem da sua própria criatividade e também a chave para o seu impacto catalítico numa tão grande e variada quantidade de pessoas.

A educação foi sempre uma da preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior. Durante sua vida, viajou por todo o mundo falando às pessoas, tendo falecido em 1986, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.

Reconhecendo a importância dos seus ensinamentos, amigos do filósofo estabeleceram fundações, na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia, assim como Centros de Informação, em muitos países do mundo, onde se podem colher informações sobre Krishnamurti e a sua obra. As fundações têm carácter exclusivamente administrativo e destinam-se não só a difundir a sua obra mas também a ajudar a financiar as escolas experimentais por ele fundadas.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

sábado, 5 de maio de 2012

A arte de escutar


Agora, é importante que, ouvindo estas palestras, estejais também escutando. Penso que há diferença entre escutar e ouvir. Podeis ouvir palavras e interpretá-las, dando-lhes vosso próprio significado ou o significado conforme um certo dicionário – e permanecer no nível da pura comunicação verbal. E quando ouvis palavras dessa maneira, intelectualmente, há concordância ou discordância. Atentai um pouquinho nisto que estou dizendo. Não estamos permutando opiniões. Não estamos investigando dialéticamente a verdade contida em opiniões. Estamos investigando, tentando compreender a Verdade – não a verdade de opiniões, a verdade do que foi dito por outros. Se escutais – que é coisa muito diferente de ouvir – não há concordância nem discordância. Estais escutando a fim de descobrir o que é verdadeiro e o que é falso; e isso não depende de vosso julgamento ou de vossa opinião, o de vosso conhecimento, ou de vosso condicionamento.

Tendes, pois, de escutar, se tendes intentos sérios. Se desejais apenas entreter-vos com coisas sérias, proporcionar-vos um passatempo intelectual, está certo também. Mas, se desejais ser verdadeiramente sérios, sentir a ânsia de descobrir o que é a Verdade, tendes de escutar. O ato de escutar não implica concordância ou discordância. E essa é que é a beleza de escutar. Compreende-se, então, totalmente. Estareis escutando puramente o som, sem interpretação, sem identificação e, por conseguinte, sem comparação. É esse o ato de escutar.

Ora, se nos estamos comunicando por meio de palavras – e só por esse meio podemos faze-lo – deveis não apenas ouvir a palavra – isto é, a natureza e o significado da  palavra – mas também escutar sem comparar, sem interpretar; deveis, com efeito, prestar toda a atenção. Vereis, então, por vós mesmos, imediatamente, o pleno significado de tudo o que a palavra “liberdade” implica. Pode-se compreende-lo instantaneamente. A compreensão, o ato  de compreender é imediato, não importa se ocorre amanhã, se hoje. O estado de compreensão é atemporal; não é processo gradativo, processo de acumulação.

Mas, quando um homem é verdadeiramente sério, sua seriedade exige atenção total, atenção que tudo penetra, de lado a lado. Esse homem deve conhecer a arte de escutar. Se vós a conheceis, não é necessário dizer-vos mais nada. Porque, então, escutareis a voz do corvo, do pássaro; e escutareis também, dentro em vós mesmo, os murmúrios de vossa mente, de vosso coração, e as mensagens procedentes do inconsciente. Achai-vos então num estado de penetrante e intensa escuta e, por conseguinte, já não vos estais entretendo com opiniões.

Por conseguinte, se sois verdadeiramente sérios, assim escutareis, pois é dessa maneira que deveis escutar. Porque, como disse, é necessária absoluta liberdade, para a compreensão da Verdade. Sem essa compreensão, a vida se torna muito superficial, vazia; o indivíduo se torna um mero autômato. E no ato de compreender o que é verdadeiro – isto é, no ato de escutar – a vida recomeça, numa forma nova.

Nossa mente não é nova. Nossa mente já viveu milênios. Por favor, não me venha com a reencarnação; se o fizerdes, não estais escutando. Empregando a apalavra “milênios”, não me estou referindo apenas a vós, porém ao homem. Sois o resultado da existência milenar do homem. Sois uma consciência vastíssima, mas vos apropriastes de apenas uma parte dela e esta parte cercastes de uma muralha, a confinastes, e agora dizeis: “Esta é minha individualidade”. E dizendo “milênios”, não me estou referindo a essa clausura, esse cercado de arame farpado que, geralmente falando, é cada um de nós.  Refiro-me aquele estado de consciência que é imenso, dilatado que teve milhares de experiências e se acha debaixo da crosta, da carga, do peso da tradição, do saber, de toda espécie de esperança, de medo, desespero, ansiedade, agonia, avidez, ambição – não apenas a ambição dos que estão enclausurados, mas também a ambição do homem. Nossa mente, pois, está embotada no passado. Este é outro fato psicológico; não se trata de vossa opinião contra a minha.

Assim, pois, com essa mente, essa psique que muito “experimentou”, que conserva todas as cicatrizes, todas as lembranças, todos os movimentos do pensamento, como memória – com essa mente vamos ao encontro da vida. Ou com ela quereis aquilo que desejais descobrir: a Verdade. Naturalmente, não o podeis. Como em relação a qualquer outra coisa, necessitais, para isso, de uma mente nova. Para olhardes uma flor, ainda que a tenhais visto todos os dias nos últimos dez anos – para a olhardes de maneira nova, como se a estivésseis vendo pela primeira vez na vida, necessitais de uma mente nova – mente fresca, inocente, sobremodo alertada. Do contrário, não podeis ver; só podeis ver vossas lembranças, projetadas naquela flor. Por favor, compreendei isto.

Uma vez tenhais compreendido o ato de ver como ato de escutar, terei aprendido algo de maravilhoso em vossa vida, algo que nunca mais vos deixará. Mas, nossa mente tanto se gastou, tanto se embotou, por influência da sociedade, das circunstâncias, de nossos temores e desesperos, de tantas brutalidades, insultos, opressões – que se tornou uma coisa mecânica, obtusa, embrutecida, pesadona. Com essa mente queremos compreender; não podemos é claro.

Temos assim a questão: É possível nos livrarmos do conhecimento? Conhecimento é o que se vai acumulando, de contínuo, do passado. Toda experiência que tendes é logo traduzida, guardada, registrada; e com esse registro vamos ao encontro da próxima experiência. Por conseguinte, nunca compreendeis uma experiência; ficais apenas traduzindo cada desafio em conformidade com a reação do passado e, dessa maneira, estais reforçando o registro. Isso é o que se passa no cérebro eletrônico, no computador. Mas, nós somos apenas pobres imitações desse maravilhoso instrumento mecânico chamado “computador”. É possível sermos livres? De outro modo, não se pode descobrir o que é a Verdade; podeis falar incessantemente a respeito dela, como os políticos citam o Gita. Cabe-vos, pois, investigar. Mas, essa investigação não é verbal; é o estado mental de escuta.

Assim, se desejais ser livre, tendes de varrer tudo isso – varrer todos os livros e instrutores religiosos – para serdes vós mesmo, para serdes capaz de descobrir. De outro modo, jamais conhecereis a extraordinária beleza e o significado da Verdade, jamais conhecereis o Amor.

Krishnamurti

quarta-feira, 2 de maio de 2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Palavras


Como somos estranhamente capturados pelo som das palavras e como as próprias palavras se tornaram importantes para nós: nação, Deus, sacerdote, democracia, revolução. Vivemos de palavras e sensações que elas produzem; e são essas sensações que se tornaram tão importantes. As palavras são prazerosas porque seus sons despertam novamente sensações esquecidas; e sua satisfação é maior quando as palavras são substituídas pelo real, pelo que é. Tentamos preencher nosso vazio interior com palavras, com sons, com barulhos, comm atividades; a música e o cântico são uma fuga feliz de nós mesmos, de nossa insignificância e de nosso tédio. As palavras enchem nossas bibliotecas; e como falamos incessantemente! Dificilmente ousamos estar sem um livro, desocupados, sozinhos. Quando estamos sós, a mente está inquieta, vagando por toda parte, preocupando-se, recordando, lutando; assim, não existe nunca a disposição de estar só, a mente nunca está tranquila.

Obviamente, a mente pode ser aquietada pela repetição de uma palavra, de um cântico, de uma prece. A mente pode ser narcotizada, anestesiada; pode ser anestesiada de modo agradável ou violento, e durante esse sono podem haver sonhos. Mas a mente que é silenciada por disciplina, por ritual, por repetição, jamais pode ser alerta, sensível e livre. Esse açoite da mente, sutil ou grosseiro, não é meditação. É agradável cantar e ouvir alguém que possa faze-lo bem; mas a sensação vive apenas de mais sensações, e a sensação leva à ilusão. A maioria de nós gosta de viver de ilusões, há prazer em encontrar ilusões mais profundas e mais amplas; mas é o medo de perder nossas ilusões que nos faz negar ou encobrir o real, o verdadeiro. Não é que sejamos incapazes de entender o real; o que nos faz sentir medo é que rejeitamos o real e nos prendemos à ilusão. Ficar cada vez mais profundamente preso na ilusão não é meditação, nem é enfeitar a cela que nos prende. A percepção, desprovida de escolha, dos mecanismos da mente, que é a criadora da ilusão, é o início da meditação.

É estranha a facilidade com que encontramos substitutos para a coisa real, e como ficamos contentes com eles. O símbolo – a palavra, a imagem – torna-se totalmente importante, e em torno dele construímos a estrutura do auto-engano, usando o conhecimento para fortalece-lo; e assim a experiência se torna um obstáculo ao entendimento do real. Nomeamos, não apenas para comunicar, mas para reforçar a experiência; esse reforço da experiência; esse reforço da experiência é a consciência de si mesmo e, uma vez pego nesse processo, é extremamente difícil abandoná-lo, ou seja, ir além da consciência de si mesmo. É essencial morrer para experiência de ontem e para as sensações de hoje, do contrário haverá repetição; e a repetição de um ato, de um ritual, de uma palavra, é inútil. Na repetição não pode haver renovação. A morte da experiência é criação.

Krishnamurti

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