quarta-feira, 24 de julho de 2013

Não existe divisão entre vida mundana e espiritual

Cada um de nós tem uma certa imagem de si próprio, em geral uma imagem algo lisonjeira, e dessa base é que olhamos a coisa que nos causa dor ou prazer.

(...)Você tem, pois, uma imagem de si mesmo — de como você é ou como deveria ser ou deve ser — e dessa imagem você olha a coisa a qual chama de “um problema”. Há, pois, a imagem e o problema; e você procura então comparar o problema com a imagem ou o interpreta em conformidade com o padrão estabelecido pela imagem. Não é assim? Tendo uma certa imagem a respeito de si mesmo, com essa imagem é que você olha o problema; há por isso uma divisão, uma contradição entre o problema e o que você pensa ser ou o que pensa que deveria ser; há um constante conflito entre aquilo que sua imagem representa, e o problema que contradiz a imagem.

(...)O problema nunca será resolvido enquanto a imagem existir — a imagem do que você deveria ser, ou a imagem de si própria que a mente criou por efeito do saber, da história, da tradição familiar, de todas as formas de experiência. Você está cônscio, não da imagem, porém, do problema, enquanto o que aqui estamos tentando não é resolver o problema, porém, sim, compreender a estrutura da imagem; porque, se nenhuma imagem temos de nós, poderemos resolver o problema.

O indivíduo, em geral, tem de si próprio a imagem de que é um ser humano extraordinário, ou um homem mal sucedido na vida, um infeliz que precisa preencher-se, ou um homem vaidoso, ambicioso — você bem sabe que imagens a maioria das pessoas têm de si próprias. Pensam ser Deus, ou pensam mão ser Deus, porém, apenas ambiente, que são isto ou aquilo. Têm uma dúzia de imagens de si próprias, ou apenas uma imagem predominante. Ora, se eu tenho uma imagem de mim mesmo, essa imagem terá de contradizer os fatos da existência diária, e só sou capaz de olhar esses fatos com os olhos dessa imagem. Por conseguinte, o problema é criado pela imagem e não pelo próprio fato.

(...)Ora, por que formo essa imagem de mim mesmo? Vejo que enquanto eu tiver qualquer conceito, imagem, conclusão a meu respeito, os problemas continuarão existentes. Assim, já não estou interessado no problema, na dificuldade; apenas me interesso em compreender por que tenho essas imagens, conceitos e conclusões sobre a minha pessoa. No Oriente, muita gente tem a ideia de que é Deus, têm uma infinidade de conceitos; e aqui, no Ocidente, você tem também seus conceitos, suas imagens. Se você for ao mundo comunista, verá que também lá eles têm suas imagens. Ora, por que formamos imagens, conceitos?

(...) Por que razão eu, que vivo há quarenta, cinquenta, sessenta ou não importa quantos anos — por que razão mantenho esse depósito repleto das coisas que penso, que sinto, que sou, que deveria ser, essa enorme acumulação de conhecimento e experiência? E, se eu não o fizesse, o que aconteceria? Compreende? Se nenhum conceito eu tivesse a respeito de mim mesmo, que me aconteceria? Ver-me-ia como que perdido numa floresta, não é verdade? Sentir-me-ia incerto, aterrorizado com a vida. Por isso, formo uma imagem, um mito, um conceito, uma conclusão a meu respeito, porque, sem essa estrutura, minha vida se tornaria, para mim, sem significação, incerta, medonha. Não haveria segurança. Exteriormente, posso estar em segurança, ter emprego, casa, etc., porém, desejo estar também em perfeita segurança interiormente; e é esse desejo de segurança que me impele a formar essa imagem de mim próprio — imagem puramente verbal, isto é, não tem realidade nenhuma, é um mero conceito, uma memória, uma ideia, uma conclusão.

Vejo isso agora como um fato. Dele estou consciente.(...) Sei como formei a própria imagem, quer por esforço consciente, quer inconscientemente, através das inumeráveis influências da sociedade, da religião organizada, dos livros. Agora o sei. Eu a formei, e vejo por que a formei. A sociedade o exige; e, também, independente da sociedade, desejo estar em segurança. A sociedade me ajuda e eu também me ajudo a ser essa imagem, essa ideia, essa conclusão; de todo esse processo estou bem consciente.

(...) Ora, o que acontece quando percebo o fato de que formei uma imagem de mim próprio — quando dele estou tão consciente como da fome? Estamos acostumados a fazer esforços. Desde a infância estimulam-nos a nos esforçar, a lutar, para termos mais êxito do que outro qualquer. Mas aqui não há necessidades de esforço algum, porque não há nada a exigir-nos esforço. Entende? Estou simplesmente a observar o fato de que tenho uma imagem de mim próprio. Todo esforço que faço para alterar, melhorar ou desfazer essa imagem consiste em ajustar-me a outra imagem que tenho de mim mesmo. Está claro? Se faço um esforço para dissipar ou destruir a imagem atual, esse esforço se origina de uma outra imagem que formei de mim, a qual diz que a imagem atual deve deixar de existir.

Como disse no começo(...) o problema é absolutamente sem importância, pois o que importa é a imagem que você tem de se mesmo. Se nenhuma imagem você tem, se amente está completamente livre de todas as imagens, você está então apto a resolver qualquer caso que se apresente, e ele não constitui problema algum.

A mente, pois, está cônscia de ter criado uma imagem de si própria, e que todo esforço para dissipar, dissolver ou fazer alguma cosia a respeito dessa imagem nasce de uma outra imagem, existente num nível muito mais profundo e me diz: “Não devo criar nenhuma imagem”. Todo esforço no sentido de alterar a imagem atual procede de outra imagem, mais profunda, de uma conclusão mais profunda. Vejo que isso é um fato e, por conseguinte, minha mente não está fazendo esforço algum para dissipar a imagem.(...) A mente está totalmente cônscia da imagem, sem ter nenhum desejo, sem fazer nenhum esforço, sem sofrer nenhuma alteração; está simplesmente cônscia da dela, simplesmente a olhá-la. Olho para este microfone, e não posso fazer coisa alguma a respeito dele. Ele existe, foi feito. De modo idêntico, a mente olha a imagem, a conclusão que tem a respeito de si mesma, sem fazer nenhuma espécie de esforço; esta é a atenção real. Nessa observação você descobrirá que existe uma tremenda disciplina — não a estúpida disciplina do ajustamento. Visto que não faz nenhum esforço para alterar a imagem, a própria mente é essa imagem. Não existem separadas a mente e a imagem, porém a mente é a imagem. Todo movimento por parte da mente para identificar-se com essa imagem ou destruí-la é criado ou impulsionado por outra imagem. A mente, por conseguinte, percebe que ela própria é a criadora da imagem.

Se você percebe esse fato, realmente, a imagem perde então toda a importância. A mente está então apta a resolver qualquer problema, qualquer crise que surja, sem o auxílio de nenhuma conclusão prévia, emanada da imagem. A mente está agora livre de todas as imagens e, por conseguinte, não se acha numa posição estática, sobre um pedestal — uma crença, um dogma, uma experiência na forma de conhecimento — de onde observa o problema. A mente, por conseguinte, pode agora “estar completamente” com qualquer dificuldade que se apresenta, sem considera-la um problema. Só existem problemas quando há contradição. Mas, aqui não há contradição alguma. Não tenho nenhuma imagem, nenhum centro, nenhuma conclusão, de onde estou olhando; deste modo, não há contradição e, portanto, não há problema.

Como disse de início, a vida é um movimento de relações, não só com pessoas, porém com tudo — a natureza, o dinheiro, ideias. A vida é um movimento, e quando nos movemos com a vida, ela não apresenta nenhum problema. É só quando se apresenta uma situação estática, da qual estamos tentando compreender, que a vida se torna um problema. A vida mundana é a única vida que você tem de compreender, e não a vida espiritual. Quando já não estamos sendo impelidos pela ambição, pela avidez, pela inveja, quando já não buscamos a fama, e quando todas as coisas que constituem isso que chamamos “vida mundana” estão em perfeita ordem, há então um movimento totalmente diferente, que a mente não pode prever, nem nele crer ou a seu respeito chegar a uma conclusão. Só existe o movimento da vida, mas nós o dividimos em movimento mundano e movimento espiritual, em vida exterior e vida interior.  Fizemos da vida interior uma cosia separada. Cansados da nossa vida mundana, com seus horrores e brutalidades — você bem sabe tudo o que se passa — tratamos de evadir-nos, de estabelecer dentro de nós uma “vida espiritual” — o que é um grande disparate. Você não pode estabelecer para si mesmo uma vida espiritual sem ter, primeiramente, perfeita ordem; e ordem significa liberdade. Você verá, então, que há uma vida sem causa, sem fim, sem começo — um movimento. Mas, o que quer que você faça — sentar-se em qualquer posição, escutar todos os truques que quiser — nenhuma possibilidade você terá de alcançar ou de compreender aquele movimento, se não existe completa ordem, quer dizer, se você não está livre da luta exterior de cada dia — da dor, do sofrimento, da avidez, da ambição.

Krishnamurti — O descobrimento do amor 

A simplicidade da meditação

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Observando a natureza exata da contradição

Não é possível a ação produtiva de energia enquanto existe contradição interior; e quase todos temos, consciente ou inconscientemente, muitas formas de contradição(...) Toda nossa vida se acha enredada nesse estado de contradição e, por conseguinte, não há uma ação clara, direta — a única que produz energia. (...) Em geral, estamos conscientes dessa contradição interior se de algum modo percebemos nossas atividades, nossos pensamentos e estados psicológicos. Por conseguinte, tentamos promover uma integração dentro de nós, e, para mim, esse ato, essa tentativa de integração é PURO CONTRA-SENSO. Não se podem integrar os opostos; não há nenhuma possibilidade de integrar o amor e o ódio.(...) Deve, pois, ficar bem claro — pelo menos por hora — que a tentativa de realizar a integração interior nada significa. O importante é COMPREENDER A CONTRADIÇÃO e, assim, ficar livre dela.

 Para nos libertarmos da contradição, temos, primeiramente, de nos TORNARMOS CONSCIENTES DELE; e provavelmente nem todos a percebemos. Vamos, simplesmente, seguindo nosso caminho habitual. E ao darmos com essa enorme contradição, existente não só em nossa vida exterior, mas também muito profundamente, dentro de nós, o que ocorre? Como para ela não achamos solução, nenhuma possibilidade de libertação, voltamo-nos para aquilo que chamamos Deus, para aquela estrutura de crença, dogmas, ritos e autoridade, conhecida em geral pelo nome de “religião”. Ou aceitamos a vida tal como se nos oferece e nenhuma significação lhe damos — como estão tentando fazer vários escritores modernos. Rejeitaram toda a estrutura da Igreja, da religião organizada — COMO DEVE FAZER TODO HOMEM INTELIGENTE, já que, de fato, ELA NADA SIGNIFICA; mas, vendo-se, então, forçados a enfrentar suas próprias contradições, seus ódios, esperanças, frustrações, sua total impotência, dizem eles: “ A vida não tem significação nenhuma; tratemos, pois, de tirar dela o melhor partido possível” — e inventam uma filosofia do desespero. Existem, por conseguinte, estes dois e contraditórios extremos.

No meu sentir, é perfeitamente possível desarraigar todas as contradições — MAS NÃO PELO ATO DA VONTADE, porque a vontade, por sua vez, gera em si CONTRADIÇÃO. (...) Somos educados para exercer a vontade de todas as maneiras possíveis; somos ensinados a superar, a negar, a afirmar, a determinar. E, se se observa a natureza da vontade, percebe-se que ela é, em si própria, uma forma de resistência e, portanto, intrinsecamente, um estado de contradição.

(...) Para compreendermos a contradição em nossa vida, temos de penetrá-la muito profundamente (a contradição); e é aí que se nos apresenta o problema. Queremos que nos digam o que fazer; queremos ajustar-nos a algum padrão, ou seguir alguém, esperando, assim, sublimar, negar ou reprimir todas as formas de contradição — maneira muito superficial de proceder. Assim, para investigarmos a questão da contradição, temos de aprofundar-nos muito mais.

(...)Penetrar fundo significa compreender a contradição; e é necessário compreendermos a contradição, para podermos ter paz, não só dentro de nós, mas também na sociedade de que fazemos parte. Devemos ter paz; não guerra e paz. Para compreendermos esse extraordinário estado de contradição, altamente complexo e sutil, não podemos simplesmente ataca-lo exteriormente ou procurar remediar seus sintomas; o que temos de fazer é penetrar-lhe as próprias raízes.

A raiz da contradição é a separação entre o pensador e o pensamento. Para a maioria de nós existe um largo intervalo entre o “observador” e a “coisa observada”, entre o “pensador” e o “pensamento”, entre o “centro que experimenta” e a “coisa que é experimentada”; e é esse intervalo, vão, ou demora que é a verdadeira fonte da contradição.

Enquanto houver “pensador”, um censor a determinar o que é bom e o que é mau, haverá inevitavelmente essa constante separação criada pelo “pensador”, a qual, obviamente, sustenta a contradição. Esse é um fato que você deve descobrir diretamente, e não apenas aceita-lo porque alguém lhe disse; e esse próprio descobrimento é o começo daquela energia com a qual você tem a possibilidade de atacar a raiz do problema da contradição. (...) Se você admite essa separação entre o “pensador” e o “pensamento”, só porque lhe dizem que ela existe, isso não será para você uma revelação vital. Mas, se pessoalmente, descobre a separação, e percebe como um fato real, esse próprio percebimento produz a energia necessária para extinguir a contradição.

(...)Havendo na mente uma forte contradição, esta produz uma certa tensão. Quanto maior a tensão e maior a capacidade de expressão do indivíduo — como escritor, artista, político — tanto mais desgraças ele criará não só para si mesmo, mas também para o público.

(...) É necessário, pois, compreendermos a grande profundeza e o significado da contradição, para dela nos libertarmos completamente; porque, de outra maneira, o amor não pode existir. O que conhecemos do amor é apenas um estado contraditório, em que há ciúme, ódio, antagonismo. Amor não é o prazer carnal que denominamos “amor”, e tampouco é o suposto amor que está ligado ao ódio, à inveja, à ambição. O homem ambicioso, é óbvio, nunca conhecerá o amor. Quando o ambicioso, aquele que compete, fala a respeito de paz, o que diz nada significa. Só existe paz quando sua mente não compete, não compara e, por conseguinte, nenhuma contradição há em você. Assim, para se poder criar uma diferente estrutura social, uma diferente sociedade, é absolutamente necessário compreender a natureza e o significado dessa contradição interior.

(...) Assim, como estava dizendo, a raiz da contradição é essa separação existente entre “pensador” e o “pensamento”; e esses dois não podem integrar-se. Mas, se você observar a estrutura do “pensador”, verá que ele não existe quando não há pensamento. O pensamento é que gera o “pensador”, o “experimentador”, a entidade criadora do tempo e que é a origem do medo.

(...) Devemos, pois, compreender a natureza da contradição, e só podemos compreendê-la observando a integral estrutura do “pensador” com seus pensamentos, suas esperanças, seus desesperos — o pensador que, como censor, cria uma perene contradição entre si próprio e a coisa que em si mesmo observa. Por conseguinte, a observação DO QUE É exige seriedade, ardor, e não uma maneira leviana de observar. Só o ardoroso vive realmente; o homem superficial não viver absolutamente. Poderá ter riquezas, posse, posição, mas nada sabe acerca da vida. Dela só conhece a superfície. Para compreendermos toda essa estrutura de nós mesmos, a ela nos devemos chegar, não com a determinação de mudar, um esforço para sermos diferentes, porém, tão só com a disposição de observar O QUE É. Não há então, contradição, porque o observador já não está atuando como censor, como juiz que condena, que rejeita, que diz o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é mau. Isso não significa viver uma vida extremamente superficial. Ao contrário, para você alcançar esse ponto em que o censor é inexistente, você tem de compreender todo o seu condicionamento. Não se trata simplesmente de aceitar minha asserção, porquanto, para você compreender o condicionamento, tem de trabalhar, e verá então que sua mente se tornará simples observadora. Já não se achará num estado de contradição e, por conseguinte, disporá de intensa energia. Essa energia é amor, paixão — não a paixão física, que é relativamente fácil, relativamente comum, que é a sensualidade que todos conhecemos. Refiro-me à paixão que não tem causa e, portanto, nenhuma contradição encerra, nenhum motivo e, consequentemente, nenhum fim. Onde está o amor, aí está também a morte; os dois são inseparáveis, porque o amor é sem ambição.

 A criação só pode verificar-se quando há uma energia que nunca foi contaminada pela vontade, que de nenhum esforço resulta; essa é a energia que a própria ação traz consigo. Atualmente todas as nossas atividades são mais ou menos egocêntricas, tem por centro nós mesmos em relação com várias coisas; e essa atividade egocêntrica, que é a atividade do “pensador”, inevitavelmente gera contradições. Vendo-se num estado de contradição, a mente exige alguma forma de expressão: preciso fugir, escrevendo, fazendo isto ou aquilo. O homem que se acha num estado de autocontradição — estado de atividade egocêntrica — e que porventura é pintor, artista, músico, poderá chamar “criação” ao que faz, mas não é criação. A criação DEVE ser, e é algo totalmente diferente.

Agora, como disse, a mente não atingida pela contradição por ter compreendido sua integral estrutura, tanto consciente como inconsciente, essa mente está perfeitamente tranquila; porque todo movimento constitui dissipação de energia. Só quando a mente está serena e carregada de forte energia, pode verificar-se uma “explosão”; essa explosão é criação, a qual pode expressar-se ou não. A mente temerosa, ambiciosa, ávida, invejosa, ciumenta, que está competindo — essa mente nunca terá aquela energia que vem com a AÇÃO SEM MOTIVO; e também, naturalmente, jamais conhecerá o amor. Onde está o amor, há constante morrer para todas as “memórias” da experiência de cada dia e, por conseguinte, o amor e a morte coexistem. O amor é sempre vigoroso, novo, juvenil, puro, e sempre incontaminado pelo passado, porque morre para o passado de cada dia. O amor e a morte existem nessa abundante energia, quando essa energia está totalmente imóvel. Há então CRIAÇÃO — ou você pode lhe dar o nome que quiser. O nome é de ínfima importância. A menos que se verifique essa transformação em cada ente humano — que faz parte da sociedade, que é o próprio meio social, não poderá existir uma nova sociedade.

Krishnamurti - O descobrimento do amor

domingo, 21 de julho de 2013

Sobre a revolução total

Por certo, toda mudança exige ordem. Vemo-nos atualmente num estado de desordem, e para se sair da desordem necessita-se de ordem: ordem social, ordem interior, e ordem em nossos valores, nossa perspectiva das coisas. Desse modo, MUDAR, no sentido em que estamos empregando a palavra, significa estar livre para estabelecer ordem. Mas a sociedade não deseja essa liberdade, porque acha que liberdade supõe desordem. Por isso existe a condição, por ela imposta ao indivíduo humano, de não fugir da estrutura psicológica da sociedade. A sociedade teme que a liberdade acarrete desordem, porque está satisfeita em viver nessa desordem a que chama “ordem”; por conseguinte, é incapaz dessa experiência, dessa REVOLUÇÃO TOTAL. Só o indivíduo humano é capaz de experimentar e realizar, POR SEUS PRÓPRIOS MEIOS, a revolução total, que é ordem.
Krishnamurti – O descobrimento do amor

Por que o homem é tão insensível?

Por que o homem é tão insensível?

Isso é bastante simples, não? Quando a educação se limita a transmitir conhecimentos e a preparar o estudante para obter empregos; quando lhe acena com ideais e o ensina a interessar-se unicamente em seu próprio sucesso — é obvio que o homem tem de tornar-se insensível. A maior parte de nós não tem amor em nossos corações. Nunca olhamos para as estrelas ou nos deleitamos com o murmúrio das águas; nunca observamos a dança do luar sobre as águas de uma torrente, ou o voo de uma ave. Nenhuma canção temos em nosso coração; estamos sempre e sempre ocupados; nossa mente está cheia de planos e de ideais de salvação da humanidade; professamos a fraternidade, e nossa própria fisionomia nos desmente. Eis porque é tão importante recebermos a educação correta enquanto ainda somos jovens, enquanto nossa mente e coração são receptivos, sensíveis, ardorosos. Mas esse ardor, essa energia, essa compreensão “explosiva”, são destruídos quando temos medo; e, em geral, tememos. Tememos nossos pais, nossos mestres, o sacerdote, o governo, o patrão; temos medo de nós mesmos. Consequentemente, a vida se torna coisa temível, sombria, e por isso o homem se torna insensível. 
Krishnamurti — A cultura e o problema humano 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Deixe de alimentar teorias sobre a Verdade

Pergunta: Você diz que em cada um de nós reside a Verdade permanente e atemporal; mas, visto que a nossa vida é efêmera, como pode residir em nós a Verdade?

Krishnamurti: Fizemos da Verdade uma coisa permanente. Mas a Verdade é permanente? Se é, ela se acha então na esfera do tempo. Dizer que uma coisa é permanente implica que ela é contínua; e o que é contínuo não pode ser a Verdade. Esta é a beleza da Verdade: ela é para ser descoberta momento a momento, e não para ser lembrada. Uma verdade lembrada é coisa morta. A Verdade deve ser descoberta a cada instante, porque é viva e nunca é a mesma; e, todavia, cada vez que você a descobre, ela é a mesma.

O importante não é criar uma teoria da Verdade, dizer que a Verdade é permanente em nós, etc., etc. Isto é uma invenção dos velhos, que têm tanto medo da morte como da vida. Estas maravilhosas teorias — que a Verdade é permanente, que você não precisa ter medo porque é uma alma imortal etc. — foram inventadas por gente amedrontada, de mente decadente, e cujas filosofias não têm validade nenhuma. A vida deve ser descoberta momento por momento, dia por dia; ela tem de ser descoberta, não podemos ter suposições a seu respeito. Se você supõe que conhece a vida, não está vivendo. Três refeições ao dia, roupas, moradia, sexo, emprego, diversões, e seu pensar — esse monótono “processo” de repetição não é a vida. A vida é coisa que se precisa descobrir; e você não pode descobri-la se não tiver perdido, colocado de lado todas as coisas que achou. Faça uma experiência com o que estou dizendo. Coloque de lado suas filosofias, suas religiões, seus costumes, seus tabus raciais etc., porque nada disto é vida. Se você ficar enredado nessas coisas, nunca descobrirá a vida; e a função da educação, por certo, é lhe ajudar a descobrir a vida a todas as horas.

O homem que diz que sabe, já está morto. Mas o homem que pensa “Não sei”, o homem que está descobrindo, investigando, que não está em busca de um fim, nem pensando em termos de “chegar” ou de “vir a ser” — esse homem está vivendo, e esse viver é a Verdade.

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Estamos morrendo, não estamos vivendo

Pergunta: O que é que nos faz temer a morte?

Krishnamurti: Você pensa que uma folha que cai ao chão tem medo da morte? Pensa que um pássaro vive com medo de morrer? Ele se encontra com a morte, quando ela vem; mas a morte não lhe dá cuidados, pois está todo ocupado com o viver, com apanhar insetos, construir seu ninho, cantar seus cantos, voar pela simples alegria de voar. Você já observou os pássaros a voar muito alto, sem um bater de asas, deixando-se levar pelo vento? Como parecem se deliciar! Não têm preocupações sobre a morte. Quando a morte chegar, muito bem, acabou-se tudo. Mas, não lhe dá cuidados o que irá acontecer; eles vivem momento por momento, não é verdade? Só nós, entes humanos, estamos sempre preocupados com a morte — porque não estamos vivendo. Esta é que é a desgraça: estamos morrendo, não estamos vivendo. Os velhos estão se aproximando da sepultura, e os mais novos não lhe ficam muito atrás.

Veja, existe esta preocupação com a morte, porque tememos perder o “conhecido”, as coisas que temos acumulado. Temos medo de perder a mulher ou o marido, um filho ou um amigo; temos medo de perder o que aprendemos, acumulamos. Se pudéssemos levar conosco tudo o que acumulamos — nossos amigos, nossos bens, nossas virtudes, nosso caráter — não temeríamos a morte, não é verdade? É por isso que inventamos teorias a respeito da morte e da vida futura. Mas o fato é que a morte é um findar, e a maioria de nós não tem vontade de enfrentar este fato. Não queremos nos separar do conhecido; portanto, é nosso apego ao conhecido que cria em nós o medo, e não o desconhecido. O desconhecido não pode ser percebido pelo conhecido. Mas a mente, constituída que é do conhecido, diz: “Eu acabarei” — e, por conseguinte, tem medo.

Ora, se você puder viver a cada momento sem preocupações sobre o futuro; se puder viver sem a ideia de “amanhã” (o que, entretanto, não implica a superficialidade de ocupar-se meramente com o dia de hoje); se, cônscio do inteiro “processo” do conhecido, você puder abandonar o conhecido, soltá-lo completamente, verá então ocorrer uma coisa estupenda. Experimentará isso um dia; coloque para o lado tudo o que você conhece, esqueça-o, para ver o que acontece. Não transporte suas tribulações de dia para dia, de hora para hora, de momento para momento; “solte-as” todas, e você verá como, dessa liberdade, surge uma vida maravilhosa, que incluirá tanto o viver como o morrer. A morte significa apenas o fim de uma coisa — e nesse próprio findar há renovação.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Por que temos medo de morrer?

Você sabe o que significa busca a permanência? Significa desejar que as coisas agradáveis durem eternamente, e as desagradáveis terminem o mais rápido possível Desejamos que nosso nome se torne famoso e tenha continuidade em nossa família e em nossos bens materiais; queremos o sentimento de permanência em nossas relações e atividades; e tudo isso significa que desejamos uma existência duradoura, contínua, em nosso fosso estagnado; lá, não queremos verdadeiras mudanças e, assim, edificamos uma sociedade que nos garante a permanência de nossos bens, nosso nome, nossa fama.

Mas, veja, a vida de modo algum é assim; a vida não é permanente. Como as folhas que caem da árvore, todas as coisas são impermanentes, nada perdura; há sempre mutação e morte. Você já observou uma árvore nua, desenhada contra o céu? Em seus galhos bem delineados, em sua nudez, há um poema, uma canção. Foram-se todas as suas folhas, e ela aguarda a primavera. Com a vinda da primavera, de novo se enche a árvore com a música de suas folhas que, na estação própria, caem e são levadas pelo vento. Assim também é a vida.

Mas nós não a queremos assim. Apegamos-nos aos nossos filhos, nossas tradições, nossa sociedade e nossas insignificantes virtudes, porque desejamos permanência; por isso é que temos medo de morrer. Tememos perder as coisas que conhecemos. Mas a vida não é como desejamos; a vida em coisa nenhuma é permanente. Os pássaros morem, a neve derrete, as árvores são abatidas pelo homem ou destruídas pelas tempestades, e assim por diante. Mas, queremos que perdure a nossa posição, a autoridade que sobre outros exercemos. Recusamo-nos a aceitar a vida como efetivamente é.

O fato é que a vida é como o rio: eternamente em movimento, perenemente buscando, explorando, impelindo, transbordando, penetrando todas as frestas com sua água. Mas, veja, a mente não quer que assim aconteça. Percebe que é perigoso, arriscado, viver num estado de impermanência, de insegurança e, por conseguinte, constrói uma muralha em torno de si própria: a muralha da tradição, da religião organizada, das teorias políticas e sociais. Família, nome, bens materiais — tudo isso se encontra atrás das muralhas, separado da vida. A vida, que é movimento, impermanência, procura incessantemente penetrar, demolir essas muralhas, atrás das quais só há confusão e angústia. Os deuses que moram atrás das muralhas são falsos deuses, e suas escrituras e filosofias são sem significação, porque a vida as excede.

Ora, para a mente que não tem muralhas, que não está pejada de aquisições, acumulações, conhecimentos, para a mente que vive fora do tempo, na insegurança, para essa mente a vida é uma coisa maravilhosa. Essa mente é a própria vida, porque a vida não tem pouso. Mas, quase todos nós queremos um pouso, uma pequena casa, um nome, uma posição, e consideramos essas coisas muito importantes. Exigimos permanência, e criamos uma “cultura” baseada nessa permanência, inventamos deuses que não são deuses, mas, tão só, “projeções” de nossos próprios desejos.

A mente que busca a permanência depressa se estagna; como a vala ao lado do rio, depressa se enche de corrupção, deterioração. Só a mente que não tem muralhas, que não tem ponto de apoio, não tem barreira, não tem pouso, que se move, toda inteira, com a vida, eternamente ousando, explorando, “explodindo” — só essa mente pode ser feliz, eternamente nova, porque ela é essencialmente criadora.
Entende o que estou dizendo? Você deve compreendê-lo, porque faz parte da verdadeira educação e, quando o compreender, sua vida será completamente transformada, suas relações com o mundo, com o próximo, com seu cônjuge, terão significado de todo diferente. Você já não tentará, então, preencher-se com coisa alguma, porque perceberá que a busca de preenchimento só atrai sofrimento e confusão. Por essa razão, você deve perguntar aos seus mestres sobre tudo isso, e discuti-lo também entre vocês. Se você o compreende, terá começado a compreender essa verdade extraordinária que é a vida, e nessa compreensão encontra-se grande beleza e amor, o florescimento da bondade. Mas, os esforços da mente que busca um fosso de segurança, de permanência, só podem conduzir à treva e à corrupção. Uma vez instalada naquele fosso, a mente teme aventurar-se fora dele, para buscar, explorar; mas a Verdade, Deus, a Realidade — ou o nome que você quiser — encontra-se além dos limites do fosso.

Você sabe o que é religião? Não é o cântico, não é a execução de rituais, não é a adoração de deuses de lata ou imagens de pedra; ela não se encontra nos templos e igrejas, nem na leitura da Bíblia ou do Gita; não é a repetição de um nome sagrado ou o seguir de qualquer outra superstição inventada pelos homens. Nada disso é religião.

Religião é o sentimento da bondade, daquele amor semelhante ao rio — que é um movimento vivo, eterno. Naquele estado, você verá chegar um momento em que não haverá busca de espécie alguma; e esse findar da busca é o começo de algo totalmente novo. A busca de Deus, da Verdade, o sentimento de se ser integralmente bom (não o cultivo da bondade, da humildade, porém o buscar, além das invenções e dos artifícios da mente, uma certa coisa — e isso significa ser sensível a essa coisa, viver nela, sê-la) isso que é a verdadeira religião. Mas nada disso lhe será possível se você não abandonar o fosso que você cavou para si mesmo, e entrar no rio da vida. A vida cuidará então de você, de uma maneira surpreendente, pois, de sua parte, nada haverá para cuidar. A vida, então, lhe levará aonde lhe aprouver, porque você será uma parte dela; não haverá mais problemas concernentes à segurança ou ao que “os outros” digam ou não digam. E esta é que é a beleza da vida.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Em seu coração não há cânticos, porém, gritos

Pergunta: Por que nunca se realizam plenamente os nossos desejos? Por que há sempre obstáculos a nos impedir de atuar completamente, como desejamos?

Krishnamurti: Se é completo o seu desejo de fazer certa coisa, se nele está todo o seu ser, sem busca de nenhum resultado, sem nenhum desejo de preenchimento — não há então nenhum obstáculo. Só há obstáculo, contradição, quando seu desejo é incompleto, fragmentário: você deseja fazer uma coisa e ao mesmo tempo tem medo de fazê-la ou sente um vago desejo de fazer outra coisa. Além disso, há possibilidade de você realizar todos os seus desejos? Compreende? Explicarei.

A sociedade, que é a relação coletiva entre os homens, não quer que você tenha nenhum desejo completo, porque, se isso acontecesse, você se tornaria um incomodo, se tornaria uma perigo para a sociedade. Ela lhe permite ter desejos “respeitáveis”, como ambição, inveja — isso, sim, é muito “correto”. Constituída, que é, de entes humanos invejosos, ambiciosos, que acreditam e imitam, a sociedade admite a inveja, a ambição, a crença, a imitação, muito embora todas essas coisas sejam indícios de medo. Enquanto seus desejos se harmonizam com o padrão estabelecido, você é um cidadão respeitável. Mas, no momento em que você tem um desejo completo, estranho ao padrão, você se torna um perigo; assim sendo, a sociedade está sempre vigilante, para lhe impedir de ter um desejo completo, um desejo que seja a expressão de seu ser total e, portanto, produtor de ação revolucionária.

A ação de ser difere muito da ação de “vir a ser”. A ação de ser é tão revolucionária que a sociedade a repudia e se interessa exclusivamente pela ação de “vir a ser”, a qual é respeitável porque condiz com o padrão. Mas, todo desejo que se expressa na ação de “vir a ser”, que é uma forma de ambição, não encontra preenchimento. Mais cedo ou mais tarde, ele se vê contrariado, impedido, frustrado, e contra a frustração nos revoltamos de maneira nociva.

Esta é uma questão muito importante de se examinar, porque, quando você envelhecer, verá que seus desejos nunca são realmente preenchidos. No preenchimento está sempre a sombra da frustração, e em seu coração não há cânticos, porém, gritos. O desejo de “vir a ser” — tornar-se um grande homem, um grande santo, um grande isto ou aquilo — não tem fim e, por conseguinte, não tem preenchimento; sua exigência é sempre de mais, e esse desejo gera sempre agonias, aflições, guerras. Mas, quando a pessoa está livre do desejo de “vir a ser”, há um “estado de Ser”, cuja atenção é totalmente diferente. Seu próprio ser é seu preenchimento. 

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Por que razão a mente se deteriora?

Numa destas manhãs, vi quando um morto era levado para ser cremado. Envolto em vistoso pano cor de vermelho purpúreo, o corpo oscilava ao ritmo dos quatro mortais que o transportavam. Que espécie de impressão lhe causa um corpo morto? Você não desejaria saber por que há deterioração? Você compra um motor novo em folha e, passados poucos anos, está completamente gasto. O corpo também se gasta; mas, você não desejaria investigar um pouco mais além, para descobrir porque razão a mente se deteriora? Mais cedo ou mais tarde ocorrerá a morte do corpo, mas a maioria de nós já tem a mente morta, já se verificou a deterioração; por que a mente se deteriora? O corpo se deteriora porque o mantemos em uso constante, e o organismo se gasta. Doença, acidente, velhice, má alimentação, deficiências hereditárias — tais são os fatores responsáveis pela deterioração e morte do corpo. Mas, por que deve a mente deteriorar-se, envelhecer, tornar-se pesada, embotada?

Ao ver um corpo morto, isso não lhe dá o que pensar? Embora nosso corpo deva morrer, por que deve a mente deteriorar-se? Nunca lhe ocorreu esta pergunta? Pois a mente, com efeito, se deteriora; vemos isso acontecer não só com as pessoas idosas, mas também com as pessoas jovens. Vemos como, nos jovens, a mente já está se tornando embotada, pesada, insensível; e, se pudermos descobrir por que razão a mente deteriora, então talvez descubramos algo verdadeiramente indestrutível. Talvez compreendamos, então, o que é a vida eterna, a vida que não tem fim, que não está no tempo, a vida que é incorruptível, que não degenera como o corpo que se transporta para o cais à beira do rio, onde é cremado e suas cinzas lançadas ao rio.

Mas, por que a mente se deteriora? Você já refletiu a esse respeito? Como você ainda é muito jovem — e se a sociedade, ou seus pais, ou as circunstâncias ainda não lhe tornaram embotado — você possui uma mente nova, ardorosa, curiosa. Você deseja saber por que existem as estrelas, por que morrem os pássaros, por que caem as folhas, como voa o avião a jato; muitas coisas você deseja saber. Mas, esse impulso vital para investigar, descobrir, é depressa sufocado, não é verdade? Sufocado pelo medo, pelo peso da tradição, por sua própria incapacidade para enfrentar essa coisa extraordinária que se chama a vida. Você já não notou quão rapidamente é destruído o seu ardor, através de uma palavra áspera, um gesto depreciativo, pelo medo de um exame, a ameaça de um pai — significando isso que a sua sensibilidade já está sendo destruída e sua mente se tornando embotada?

Outro caso de embotamento é a imitação. Pela tradição, você é obrigado a imitar. O peso do passado lhe força a se ajustar, a estabelecer uma linha de conduta e, com esse ajustamento, a mente se sente protegida, em segurança; você se instala numa rotina bem “lubrificada”, para que possa deslizar suavemente, livre de perturbações, sem o mais ligeiro estremecimento de dúvida. Observe os adultos que lhe rodeiam e verá que a mente deles não quer ser perturbada. Eles querem paz, ainda que seja a paz da morte; mas a verdadeira paz é coisa muito diferente.

Você já notou que, quando a mente se fixa numa rotina, num padrão, sempre o faz inspirada pelo desejo de segurança? É por esta razão que ela segue um ideal, um guru. Quer segurança, ausência de perturbação e, por isso, adormece. Quando lê, em seus livros de história, a respeito dos grandes líderes, santos, guerreiros, você não se surpreende desejando igualá-los? Isto não significa que não haja grandes homens no mundo; mas o instinto é imitar os grandes homens, procurar tornar-se igual a eles — e este é um dos fatores de deterioração, porque, então, a mente se coloca num molde. Igualmente, a sociedade não deseja indivíduos alertados, ardorosos, revolucionários, porque tais indivíduos não se ajustarão ao padrão social estabelecido e há sempre o perigo de que quebrem esse padrão. É por isso que a sociedade se empenha em prender sua mente em seu padrão, e é por isso que a chamada educação lhe estimula a imitar, a seguir, a se ajustar.

Ora, pode a mente deixar de imitar? Isto é, pode deixar de formar hábitos? E pode a mente que já se acha enredada no hábito, dele ficar livre?

A mente é o resultado do hábito, não? Ela é o resultado da tradição, do tempo — sendo “tempo” a repetição, a continuidade do passado. E pode a mente, a sua mente, deixar de pensar em termos daquilo que foi — e daquilo que será, que é, na verdade, uma projeção do que foi? Pode sua mente se libertar dos hábitos e deixar de criar hábitos? Se você penetrar bem profundamente neste problema, verá que pode. E quando a mente se renova sem formar novos padrões, novos hábitos, sem tornar a cair na rotina da imitação, permanece, então, fresca, jovem, “inocente”, sendo, portanto, capaz de infinita compreensão.

Para essa mente, não há morte, uma vez que já não existe processo de acumulação. É o processo de acumulação que cria o hábito, a imitação, e, para a mente que acumula, há deterioração, morte. Mas, para a mente que não está cumulando, juntando, que está morrendo a cada dia, a cada minuto — para essa mente não há morte. Ela se acha num estado de “espaço infinito”.

Assim, pois, deve a mente morrer para tudo o que acumulou, todos os hábitos e virtudes imitadas, para todas as coisas de que se acostumou a depender, para ter o sentimento de segurança. A mente então já não está aprisionada na rede de seu próprio pensar. No morrer para o passado, a cada instante, a mente se torna fresca, nova, nunca se deteriorará nem colocará em movimento a “onda da escuridão”.  Krishnamurti - A cultura e o problema humano

quinta-feira, 18 de julho de 2013

É dificílimo ter a mente desocupada

Você sabe o que é a mente? Grandes filósofos consumiram anos e investigar a natureza da mente, e sobre ela se têm escrito vários volumes; mas, prestando-se toda a atenção, acho que é bastante simples descobrir o que é a mente. Você já observou a sua própria mente? Tudo o que até hoje você aprendeu, a lembrança de todas as suas pequenas experiências, tudo o que seus pais e mestres lhe ensinaram, tudo o que você leu em livros e observou no mundo circundante — tudo isso é a mente. É a mente que observa, que discerne, que aprende, que cultiva as chamadas virtudes, que comunica ideias, que tem desejos e temores. Ela é, não só o que você vê à superfície, mas também as profundezas do inconsciente, onde estão ocultas as raciais ambições, motivos, impulsos, conflitos. Tudo isso constitui a mente. Pois bem; a mente quer estar sempre ocupada com alguma coisa, assim como a mãe que se preocupa com os filhos, ou a dona de casa com sua cozinha, ou o político com sua popularidade, sua posição no Parlamento; e a mente que se mantém ocupada é incapaz de resolver um problema. Percebe isso? Só a mente que não está ocupada, está fresca e pode compreender um problema.

Observe sua própria mente para ver como é inquieta, uma vez que está sempre ocupada com alguma coisa: com o que alguém disse ontem, com alguma notícia recebida neste instante, com o que você fará amanhã, etc. Nunca se encontra desocupada — o que não significa estar “estagnada” ou num estado de vacuidade. Enquanto está ocupada com o que quer que seja — as coisas mais elevadas ou as mais insignificantes — a mente é sempre limitada, medíocre. E a mente medíocre é incapaz de resolver qualquer problema; só sabe manter-se ocupada com ele. Por mais importante que seja o problema, a mente mantendo-se ocupada com ele, o torna insignificante: só a mente que está desocupada e, por conseguinte, fresca, pode considerar e resolver um problema.

Mas, é dificílimo ter a mente desocupada. Quando alguma vez você estiver sentado tranquilamente à beira do rio, ou em seu quarto, observe a si mesmo, para ver como aquele pequeno espaço de que você está consciente e que você chama “a mente”, está repleto de pensamentos que nele se precipitam. Enquanto a mente está “cheia”, ocupada com alguma coisa — seja a mente de uma dona de casa, seja a do maior dos cientistas, ela é pequena, medíocre, e nunca será capaz de resolver qualquer problema a que se aplique. Mas, ao contrário, a mente que está desocupada, que tem espaço, pode aplicar-se ao problema e resolvê-lo, porque essa mente é fresca, e, portanto, se aplica ao problema de maneira nova e não com a velha herança de suas próprias lembranças e tradições.   
Krishnamurti – A cultura e o problema humano

Por que buscamos ser famosos?

Pergunta: Por que buscamos ser famosos?

Krishnamurti: Você já refletiu sobre isto? Desejamos ser famosos, como escritores, como poetas, como pintores, políticos, cantores, ou o que quer que seja. Por quê? Porque não amamos verdadeiramente o que fazemos. Se você amasse o cantar, o pintar, o escrever poesias — amasse realmente — nenhuma preocupação você teria de ser famoso ou não. Desejar ser famoso é vulgar, trivial, estúpido, sem significação; mas, porque não amamos o que fazemos, desejamos enriquecer-nos com a fama. Nossa educação atual está corrompida, porque nos ensina a amar o êxito e não aquilo que estamos fazendo. O resultado se torna mais importante do que a ação. É bom escondermos o nosso brilho, sermos anônimos, amarmos o que fazemos, não fazermos exibição de nós mesmos. É bom ser bondoso sem ter nome. Isso não lhe faz famoso, não faz seu retrato aparecer nos jornais. Os políticos não virão bater à sua porta. Você é então, simplesmente, um ente criador, que vive anonimamente, e nisso há grande beleza.

Krishnamurti – A cultura e o problema humano

Podemos viver sem a fome de poder?

Pergunta: O que é “poder”?

Krishnamurti: Há o poder, a força mecânica, a força gerada pelo motor de combustão interna, pelo vapor, ou pela eletricidade. Há a força que reside numa árvore, que faz correr a seiva, que cria a folha. Há a força, o poder de pensar muito claramente, o poder de amar, o poder de odiar, o poder de um ditador, o poder de explorar os outros, em nome de Deus, em nome dos Mestres, em nome de uma nação. Tudo isso são formas de poder.

Ora, a energia que produz eletricidade ou luz, a energia atômica etc. — todas essas formas de poder são boas em si próprias, não é verdade? Mas, o poder que a mente tem de servir-se dessas forças para fins agressivos e tirânicos, para ganhar algo para si própria — esse poder, em todas as circunstâncias, é mau. O chefe de uma sociedade, igreja ou grupo religioso, que exerce poder sobre outras pessoas é um ente mau, porque está controlando, moldando guiando outros, quando ele próprio não sabe para onde está indo. Isso é verdadeiro em todo o mundo, não só em relação às grandes organizações, mas também em relação às pequenas sociedades. No momento em que uma pessoa tem clareza, em que não está confusa, nesse momento deixa de ser líder ou guia e, por conseguinte, nenhum poder exerce.

Assim, muito importa compreender por que a mente humana sente necessidade de exercer poder sobre os outros. Os pais exercem poder sobre os filhos, a mulher sobre o marido ou o marido sobre a mulher. Da pequena família o mal se estende até tornar-se tirania dos governos, dos líderes políticos e intérpretes religiosos. E pode uma pessoa viver sem essa fome de poder, sem desejar influenciar nem explorar outros, sem desejar poder para si própria, um grupo ou nação, um Mestre ou santo? Todas as formas de poder são destrutivas e acarretam aflições ao homem. Ao passo que ser verdadeiramente atencioso, bondoso, amar — eis uma coisa extraordinária, que tem seu efeito próprio, eterno. O amor “é sua própria eternidade”, e onde há amor, não há poder mau.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Por que detestamos os pobres?

Pergunta: Por que detestamos os pobres?

Krishnamurti: Você de verdade detesta os pobres? Não estou lhe condenando; estou só perguntando se realmente você detesta os pobres. Se o faz, por quê? Por que pode acontecer que você também seja pobre um dia, e, imaginando suas próprias circunstâncias, então, tal estado lhe repugna? Ou você tem aversão à existência sórdida, abjeta, desordenada, dos pobres? Como você não gosta de desalinho, desordem, esqualidez, imundície, você diz: “Nada quero com os pobres”. É isso? Mas quem foi que criou a pobreza, a sordidez, a desordem, neste mundo? Você, seus pais, seu governo — toda esta sociedade as criou; porque não temos amor em nosso coração. Não amamos nem nossos filhos, nem nosso próximo, não amamos os vivos nem os mortos. Os políticos não irão extirpar a miséria e a fealdade existentes no mundo, e tampouco o farão a religião e os reformadores, porque a todos só interessa “pregar” um pequeno remendo aqui e ali; mas, se houvesse amor, todas essas coisas feias desapareceriam amanhã.

Você ama alguma coisa? Sabe o que significa amar? Quando você ama uma coisa completamente, com todo o seu ser, tal amor não é sentimental, não é um dever, não se divide em físico e divino. Você ama alguém ou alguma coisa com todo o seu ser — seus pais, um amigo, um cão, uma árvore? Ama? Parece-me que não. Por isso é que, em seu ser, há tanto espaço onde se abriga a fealdade, o ódio, a inveja. Mas, o homem que ama não tem espaço para nada mais. Deveríamos com efeito, passar nosso tempo livre e examinar tudo isso, a fim de descobrirmos o meio de eliminar as coisas que estão atravancando a mente de tal maneira, que não podemos amar; porque é só quando amamos, que podemos ser livres e felizes. Só os que amam, os valorosos, os felizes, podem criar um mundo novo — e não os políticos, os reformadores ou uns poucos visionários ideológicos. 

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

Sobre os homens livres do destino

Pergunta: O que é destino?

Krishnamurti: Você deseja realmente examinar este problema? Fazer uma pergunta é a coisa mais fácil do mundo, mas uma pergunta só tem significação se lhe interessa diretamente, se você a leva muito a sério. Não tem notado como muitas pessoas perdem todo o interesse depois de fazerem a pergunta? Há dias, um homem fez a pergunta e, em seguida, começou a bocejar, a coçar a cabeça e a conversar com seu vizinho (de cadeira); tinha perdido todo o interesse. Assim, sugiro que você não faça perguntas, a menos que as leve realmente a sério.

Este problema do destino é muito difícil e complexo. Veja, quando uma causa é colocada em andamento, produzirá inevitavelmente um resultado, um efeito. Se um grande número de pessoas — russos, americanos, ou hindus — se preparam para a guerra, seu destino é a guerra; ainda que aleguem que desejam a paz e que estão se preparando apenas para a sua própria defesa, colocaram em movimento causas que originam a guerra. Analogamente, quando milhões de pessoas vêm tomando parte, há séculos, no desenvolvimento de uma certa civilização ou cultura, colocaram em andamento um movimento pelo qual os entes humanos são colhidos e arrastados, a gosto ou contragosto; e esse processo em que se é colhido e arrastado por determinada corrente de cultura ou civilização, pode-se chamar Destino.

Afinal de contas, se você nasce filho de advogado e seu pai insiste em que você também se torne advogado, se você se submete a seus desejos, ainda que prefira ser outra coisa, então, evidentemente, seu destino é ser advogado. Mas, se você se recusa a ser advogado, se estiver firmemente determinado a fazer o que sentir ser correto para você, ou seja, o que realmente gosta de fazer — que pode ser escrever, pintar, viver sem dinheiro, pedindo esmolas — se isso ocorrer, você terá saído da corrente, terá se libertado do destino que seu pai havia traçado para você. O mesmo se dá em relação à cultura ou civilização.

Por isso é tão importante sermos educados corretamente — educados, para não nos deixarmos sufocar pela tradição, para não termos o destino de um dado grupo racial, cultural ou familial; educados, para não nos tornarmos entidades mecânicas, movimentadas para um fim preestabelecido. O homem que compreende esse processo em sua inteireza, que dele se liberta e fica , cria o seu impulso próprio; e, se, sua ação consiste em libertar-se do falso para conhecer a verdade, então esse próprio impulso se torna a Verdade. Esses homens estão livres do destino.

Krishnamurti — A cultura e o problema humano  

Sobre a superação do hábito de fumar

Pergunta: Você disse que quando vemos uma coisa como falsa, essa coisa falsa cai por si. Eu vejo todos os dias que o hábito de fumar é “falso”; entretanto, ele ainda não caiu por si.

Krishnamurti: Você já observou os adultos quando fumam — seus pais, seus mestres, seu vizinho ou outros? Isso se tornou um hábito para eles, não é exato? Prosseguem fumando, dia após dia, ano após ano, pois se tornaram escravos desse hábito. Muitos, compreendendo o quanto é estúpido ser escravo de alguma coisa, lutam contra o hábito, disciplinam-se contra ele, procuram por todos os meios para se libertarem dele. Mas, veja, o hábito é uma coisa morta, uma ação que se tornou mecânica e que, quanto mais a combatemos, tanto mais forte se torna. Mas se a pessoa que fuma se tornar consciente de seu hábito, estiver consciente de quando leva a mão ao bolso, retira um cigarro, “bate-o”, coloca-o na boca, acende-o e tira a primeira “fumaça” — se, cada vez que percorrer essa rotina, observá-la sem condenação, sem dizer como é terrível fumar — não estará dando mais vitalidade a esse hábito. Mas, para você poder largar de fato alguma coisa que se tornou hábito, tem de investigar muito mais profundamente, quer dizer, tem de examinar todo o problema de por que a mente cultiva um hábito; e esse problema é: Por que a mente é desatenta? Se você limpa os dentes todas as manhãs, olhando ao mesmo tempo pela janela, o escovar os dentes se torna um hábito; mas se você limpa os dentes muito cuidadosa e atentamente, então esse ato não se torna um hábito, uma rotina que se repete sem pensar.

Experimente isso, observe como a mente deseja “colocar-se a dormir”, por meio do hábito, a fim de não ser perturbada. A mente da maioria das pessoas está sempre funcionando na rotina do hábito, o qual, quanto mais velhos ficamos, pior se torna. Provavelmente você já adquiriu dúzias de hábitos. Você tem medo do que possa acontecer, se não fizer o que seus pais mandam, se não se casar conforme os desejos paternos; por conseguinte, sua mente já está funcionando numa rotina; e quando uma pessoa funciona numa rotina, ainda que só tenha dez ou quinze anos de idade, interiormente já está velha, em declínio. Poderá ter um corpo são, porém, nada mais. Seu corpo poderá ser jovem e aprumado, mas sua mente já está dobrada sob seu próprio peso.

Por conseguinte, revela compreender o inteiro problema de por que a mente permanece em seus hábitos e rotinas, seguindo sempre uma determinada “linha”, qual um carro elétrico, e tem medo de indagar, de investigar. Se você diz, “Meu pai é sikh (¹), e por isso eu sou sikh e vou deixar crescer os cabelos, usar turbante” — se você diz tal coisa, sem investigar, sem indagar, sem nenhuma intenção de se libertar, você é então semelhante a uma máquina. O fumar também lhe torna semelhante a uma máquina, escarvo do hábito, e é só quando se compreende tudo isso que a mente se torna fresca, jovem, ativa, viva, de modo que cada dia é um novo dia, cada alvorada refletida no rio um deleitável espetáculo.

Krishnamurti - A cultura e o problema humano


(¹) sikh - Adepto do sikhismo, seita fundada pelo guru Nanak, no século XVI, que não reconhece a supremacia bramânica

A falsa ideia do devido respeito à posição

A chuva que cai em solo ressecado é uma coisa maravilhosa. Lava as folhas, refresca e renova a terra. E eu acho que todos deveríamos “lavar”, purificar nossa mente, da mesma maneira como as árvores são lavadas pela chuva, tão pesada que está da poeira de muitos séculos, dessa poeira que chamamos “conhecimento”, “experiência”. Se você e eu fizéssemos todos os dias uma “limpeza” em nossa mente, livrando-a das reminiscências de ontem, cada um de nós possuiria uma mente nova, uma mente capaz de enfrentar os numerosos problemas da existência.

Ora, um dos grandes problemas que estão perturbando o mundo é o da chamada “igualdade”. Mas, em certo sentido, essa coisa chamada “igualdade” é inexistente, porque todos temos diferentes capacidades; mas estamos tratando aqui da igualdade no sentido de que todos deveriam ser tratados de igual maneira. Numa escola, por exemplo, os cargos de diretor, professor, monitor, são apenas empregos, funções; mas, como você sabe, a certos cargos ou funções está associada a ideia de posição, e  posição é uma coisa respeitada, porque supõe autoridade, prestígio, confere a um homem o poder de dar ordens a outros, de distribuir empregos entre os amigos e membros da própria família. Vemos, pois, que à função está associada a posição. Mas, se pudéssemos eliminar totalmente essa ideia de categoria, influência, posição, prestígio, poder de conferir favores a outros, a função teria então um significado muito diferente e muito simples, não acha? Então, quer se tratasse de governadores, primeiro-ministros, quer de simples cozinheiros ou pobres professores, todos seriam tratados com igual respeito, porquanto cada um está desempenhando uma diferente porém necessária função na sociedade.

Sabe o que aconteceria, principalmente numa escola, se fosse possível afastar definitivamente da função toda noção de poder, de posição, de prestígio, eliminar o sentimento de se ser “O Chefe”, o “homem importante”? Estaríamos todos vivendo numa atmosfera completamente diferente, não? Nenhuma autoridade haveria — “autoridade”, no sentido de “superior e inferior”, o homem importante e o homem sem importância — e, por conseguinte, haveria liberdade. E muito importa criar-se numa escola uma atmosfera assim, uma atmosfera de liberdade, de amor, onde cada um tenha um forte sentimento de confiança; porque, como sabe, a confiança nasce quando uma criança se sente como “em casa”, em segurança. Mas — você se sente à vontade em sua própria casa, quando seu pai, sua mãe, sua avó, está constantemente lhe dizendo o que você deve fazer, tirando-lhe gradualmente a confiança em sua própria capacidade de fazer qualquer coisa por iniciativa própria? Quando você crescer, deve ser capaz de investigar, de descobrir o que considera verdadeiro, e de se ater com firmeza ao que descobre. Deve ser capaz de sustentar o que considera justo, ainda que daí lhe advenha penas, sofrimentos, prejuízos de dinheiro, etc., e para ser assim você deve se sentir, enquanto é jovem, em perfeita segurança e livre de constrangimento.

A maioria dos jovens não se sentem em segurança, porque vivem amedrontados. Têm medo dos mais velhos, dos educadores, da mãe, do pai, e, por conseguinte, nunca se sentem perfeitamente tranquilos. Mas, quando você se sente verdadeiramente tranquilo, à vontade, acontece uma coisa extraordinária. Quando você pode se retirar para seu quarto, fechar a porta e ficar , sem ninguém a lhe observar, sem ninguém a lhe dizer o que você deve fazer, então você se sente em perfeita segurança; começa, assim, a desabrochar, a compreender, a se abrir. É função da escola ajudar-lhe a se abrir; se ela não o faz, não é digna desse nome.

Quando você se sente à vontade num lugar, isto é, quando se sente em segurança, não intimidado, não compelido a fazer isto ou aquilo; quando se sente muito feliz, perfeitamente tranquilo, não é então mau, é? Quando é verdadeiramente feliz, não tem vontade de magoar ninguém, de destruir coisa alguma. Mas é dificílimo fazer o estudante sentir-se perfeitamente feliz, porque ele já vai para a escola com a ideia de que o diretor, os educadores, os monitores vão-lhe dizer o que deve fazer, “empurrá-lo” para um lado e para o outro. Por isso há medo.

Quase todos vocês procedem de famílias ou de escolas onde foram educados para respeitar a posição. Seu pai e sua mãe têm posição, o diretor te posição, e, por conseguinte, vocês já chegam aqui com medo, com esse respeito à posição. Mas, temos de criar na escola uma atmosfera de liberdade, e isso só pode acontecer quando há função sem posição e, por conseguinte, um sentimento de igualdade. O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar-lhes para serem um ente humano valoroso e sensível, um ente humano sem medo e sem a falsa ideia do devido respeito à posição.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre a dificuldade de conservar a inocência

Pergunta: Quando amo alguém e essa pessoa se irrita, por que é tão intensa sua cólera?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, você ama alguém? Sabe o que é amar? É dar, completamente, sua mente, seu coração, todo o seu ser, sem pedir retribuição, sem estender a mão para pedir amor. Compreende? Quando existe essa espécie de amor, pode haver cólera? E por que nos encolerizamos ao amarmos alguém com isso que ordinariamente chamamos “amor”? É porque não estamos obtendo o que esperamos da pessoa, não é verdade? Amo minha esposa ou marido, meu filho ou filha, mas, no momento em que fazem algo “errado”, me encolerizo. Por que?

Por que se zanga o pai com o filho ou a filha? Por que quer que o filho seja ou faça alguma coisa, que se ajuste a um certo padrão, e o filho se rebela. Os pais procuram se preencher, se imortalizar em seus bens materiais, em seus filhos, e, quando o filho faz algo que desaprovam, se irritam violentamente. Têm um ideal do que o filho deve ser, e com esse ideal estão preenchendo a si próprios; por isso, se zangam quando o filho não se adapta ao padrão que representa o próprio preenchimento deles. Você já notou quando se zanga, às vezes, com um dos seus amigos? É o mesmo processo que se está verificando. Você está esperando alguma coisa dele e, quando essa expectativa não se preenche, você se sente desapontado; e isso, com efeito, significa que, interiormente, psicologicamente, está dependendo dessa pessoa. Assim, sempre que há dependência psicológica, tem de haver frustração; e a frustração, inevitavelmente, gera cólera, azedume, ciúme, e várias outras formas de conflito. Por isso é muito importante, enquanto ainda é jovem, amar com todo o seu ser — uma árvore, um animal, seu mestre, seu pai — por que então você pode descobrir por si mesmo o que é viver sem conflito, sem medo.

Mas, veja, o educador, em geral, está interessado em si mesmo, em seus problemas pessoais — domésticos, econômicos, profissionais. Não tem amor no coração, e esse é um dos problemas da educação. Você talvez tenha amor no coração, porque amar é coisa natural dos jovens; mas esse amor é depressa destruído pelos pais, pelo educador, pelo ambiente social. Conservar essa inocência, esse amor que é o perfume da vida, é dificílimo, requer muita inteligência, claro discernimento.

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

Toda iniciativa dentro do padrão social produz presunção

Estivemos examinando a questão da revolta dentro da prisão, e vimos que todos os reformadores, idealistas, e outros que se mostram incessantemente ativos, a fim de alcançarem certos resultados, só se revoltam dentro dos muros de seu próprio condicionamento, de sua própria estrutura social, dentro do padrão cultural de civilização, o qual exprime a vontade coletiva. Penso que seria bastante proveitoso examinar agora o que é confiança e como ela nasce.

Com a iniciativa vem a confiança; mas, toda iniciativa dentro do padrão só produz presunção, que é coisa muito diferente da confiança em que não existe o “eu”. Você sabe o que significa ter confiança? Se você faz uma coisa com suas próprias mãos, se planta uma árvore e a vê crescer, se pinta um quadro ou escreve uma poesia, ou, quando mais velho, constrói uma ponte ou desempenha com perfeição um certo cargo administrativo, isso lhe dá a confiança de ser capaz de fazer algo. Mas, veja, a confiança, como atualmente a conhecemos, está sempre dentro da prisão que a sociedade — comunista, hinduísta, cristã — construiu ao redor de nós. A iniciativa dentro da prisão cria, com efeito, uma certa confiança, porque você se sente capaz de fazer coisas: desenhar uma flor, ser um bom médico, excelente cientista etc. Mas esse sentimento de confiança que vem com a capacidade de ser bem sucedido dentro da estrutura social, ou a capacidade de fazer reformas, melhorar a iluminação, de corar o interior da prisão, essa confiança é, na verdade, presunção; você sabe que é capaz de fazer algo e se sente importante quando o faz. Mas se, ao contrário, pela investigação, pela compreensão, você se liberta da estrutura social, da qual você é parte integrante, vem uma confiança de espécie totalmente diferente, na qual não há sentimento da própria importância; e compreender a diferença entre as duas — a presunção e a confiança livre do “eu” — penso que isso será altamente significativo em sua vida.

Quando você joga com maestria um certo jogo, por exemplo, badminton, críquete, futebol, você tem um certo sentimento de confiança, não é exato? Isso lhe dá a convicção de que é um “bom jogador”. Se você resolve problemas matemáticos com rapidez, isso também cria um sentimento de confiança em si mesmo. Quando a confiança provem de ação exercida dentro da estrutura social, é sempre acompanhada de uma certa arrogância, não é verdade? A confiança do homem que sabe “fazer coisas”, que é capaz de alcançar resultados, traz sempre o colorido dessa arrogância do “eu”, desse sentimento que nos faz dizer “só eu faço isto”. Assim, no próprio ato de conquistar um resultado, de promover uma reforma social no interior da prisão, há essa arrogância do “eu”, o sentimento de que eu tive êxito, meu ideal é importante, meu grupo venceu. Essa consciência de “eu” e de “meu” acompanha sempre a confiança que se expressa dentro do padrão social.

Você já notou como são arrogantes os idealistas? Os líderes políticos que conseguem certos resultados, que realizam grandes reformas — já não notou como são presunçosos, “cheios de ventos”, com seus ideais e suas realizações? Em sua própria estimativa são muito importantes. Leia uns poucos discursos políticos, observe alguns desses que se intitulam “reformadores”, e você verá que, no próprio processo de reformação, eles estão cultivando o próprio ego; suas reformas, por mais simples que sejam, estão sempre dentro da prisão, por conseguinte são destrutivas e causam, finalmente, mais aflição e mais conflito ao homem.

Agora, se você puder penetrar essa estrutura social — o padrão cultural da vontade coletiva a que chamamos civilização — se puder compreende-la totalmente e dela se libertar, rompendo os muros da prisão de sua particular sociedade — hinduísta, comunista ou cristã — verá então surgir uma confiança não contaminada do sentimento de arrogância. Essa é a confiança da “inocência”. É como a confiança de uma criança: tão completamente inocente que está pronta para experimentar qualquer coisa. Tal confiança é que dará nascimento a uma nova civilização; mas essa inocente confiança não poderá nascer enquanto você permanecer dentro do padrão social.

Peço-lhe que escute com toda atenção. Este orador não tem a mínima importância, mas, para você, é da máxima importância compreender a verdade do que está sendo dito. Afinal de contas, isso é educação, não acha? A função da educação não é lhe preparar para se ajustar ao padrão social; ao contrário, sua função é ajudar-lhe a compreender completa, profunda e plenamente, o padrão social, a fim de você poder se libertar dele e ser um indivíduo sem aquela arrogância do ego; você tem então confiança, porque é verdadeiramente inocente.

Não é uma verdadeira tragédia estarmos todos nós interessados apenas em como nos ajustarmos à sociedade, ou em como a reformarmos? Você não notou que a maioria das perguntas feitas reflete esta atitude? Você está dizendo efetivamente: “Como posso me ajustar à sociedade?” Que dirá meu pai e minha mãe e que me acontecerá, se eu não o fizer?” Uma tal atitude destrói toda a confiança, toda a iniciativa que porventura você tenha. Assim, você saí da escola e do colégio transformado numa espécie de autômato, altamente eficiente, talvez, mas sem a chama criadora. Por isso que é tão importante compreender a sociedade, o ambiente em que se vive e, nesse próprio processo de compreensão, romper as suas muralhas.

Como você deve saber, este é um problema existente no mundo inteiro. O homem está em busca de uma nova “resposta” (ao desafio da vida), de “um novo acesso à vida”, porque as velhas normas estão decaindo, tanto na Europa, como na Rússia e aqui. A vida é desafio contínuo, e tentar meramente promover uma melhor ordem econômica não constitui uma “resposta” total a esse desafio, que é sempre novo; e, quando culturas, povos, civilizações, se tornam incapazes de “responder” totalmente ao desafio do novo, são destruídos.

A menos que você seja educado adequadamente, a menos que tenha aquela extraordinária confiança de inocência, será inevitavelmente absorvido pelo “coletivo” e se perderá no meio da mediocridade geral. Você acrescentará algumas letras ao seu nome, se casará, terá filhos — e estará liquidado.

Como sabe, a maioria de nós tem medo. Seus pais têm medo, seus educadores têm medo, os governos e as religiões temem que você se torne um indivíduo total, porque todos querem que permaneça, para a segurança deles, na prisão das influências ambientais e culturais. Mas, só os indivíduos capazes de se libertarem do padrão social, pela compreensão dele, e que por conseguinte não estão tolhidos pelo condicionamento de sua própria mente — só esses poderão criar uma nova civilização — e não os que apenas cuidam de se ajustar ou de resistir a um dado padrão, por terem sido moldados por outrem. A busca de Deus ou da Verdade não se efetua dentro do padrão, porém, antes, compreendendo a prisão e rompendo os seus muros; e esse próprio movimento para a liberdade cria uma nova cultura, um mundo diferente.

Krishnamurti - A Cultura e o problema humano     

Sobre a ameaça e o medo, toda cultura declina

Pergunta: Qual a diferença entre a “cultura americana” e a “cultura hindu”?

Krishnamurti: Ao falarmos de cultura americana, temos me mente, em geral, a cultura europeia transplantada na América, cultura que com o tempo se modificou e ampliou no encontro com novas fronteiras, físicas e mentais.

E o que é “cultura hindu”? Qual a cultura que você tem aqui? O que você entende pela palavra “cultura”? Se você já praticou jardinagem, sabe como se cultiva e se prepara a terra. Cava-se o solo, removem-se as pedras e, se necessário, adiciona-se adubo — uma mistura de folhas, capim, estrume e outras matérias orgânicas decompostas — para fertilizar o solo, e, então, planta-se. O solo fértil dá nutrição à planta e esta, gradualmente, produz aquela coisa maravilhosa e encantadora que se chama “uma rosa”.

Pois bem; a cultura hindu é coisa semelhante. Milhões de pessoas a produziram, com suas lutas, sua vontade, pelo desejar isto e resistir àquilo, pelo constante pensar, sofrer, temer, evitar, fruir; também o clima, as roupas, o alimento, tiveram sua influência. Temos, pois, aqui, um solo extraordinário: a mente; e, antes de estar ela completamente moldada, houve uns poucos indivíduos cheios de vitalidade e força criadora que “explodiram” por toda a Ásia. Não diziam, como vocês: “Tenho de aceitar os decretos da sociedade. O que dirá meu pai, se eu não o fizer?” Pelo contrário, esses homens haviam encontrado algo e não se mostravam indiferentes, porém, possuídos de ardente entusiasmo. Ora, tudo isso constitui a cultura hindu. O que você pensa, os alimentos que come, as roupas que veste, suas maneiras, suas tradições, seu falar, suas pinturas e estátuas, seus deuses, e sacerdotes, e livros sagrados — tudo isso é “cultura hindu”, não é?

Assim, a cultura hindu é um tanto diferente da cultura europeia, mas abaixo da superfície p movimento é o mesmo. Esse movimento poderá se expressar diferentemente na América, pois lá as necessidades diferem, há menos tradições, mais confortos, etc. Mas, abaixo da superfície, o movimento é o mesmo: achar a felicidade, descobrir o que é Deus, o que é a Verdade. E quando este movimento se detém, a cultura declina, como aconteceu neste país. Quando esse movimento é embargado pela autoridade, pela tradição, pelo medo, há declínio, deterioração.

O impulso para descobrir o que é a Verdade, o que é Deus, é o único impulso real, e todos os outros impulsos são subsidiários. Quando jogamos uma pedra na água tranquila, formam-se círculos crescentes. Esses círculos crescentes são os movimentos subsidiários, as reações sociais; mas o movimento real está no centro: o movimento para achar a felicidade, Deus, a Verdade. E você não achará nada disso enquanto estiver limitado pelo medo. No momento em que surge a ameaça e o medo, a cultura declina.

Eis porque é tão importante que, enquanto você é jovem, não se deixe condicionar, não se deixe tolher pelo medo a seus pais, à sociedade, de modo que em você haja aquele movimento atemporal para o descobrimento da Verdade. Os homens que investigam o que é a Verdade, o que é Deus — só esses homens podem criar uma nova civilização, uma nova cultura, e não aqueles que se submetem ou se revoltam apenas dentro da prisão do velho condicionamento. Você pode colocar as roupas de uma eremita, ingressar nesta ou naquela sociedade, abandonar uma religião por outra, tentar de várias maneiras de ser livre; mas, se não houver dentro de você aquele movimento para descobrir o que é Real, o que é a Verdade, seus esforços serão sem significação. Você pode ser muito ilustrado e fazer as coisas que a sociedade chama “boas”, mas tudo isso está dentro da prisão da tradição e, por conseguinte, não tem nenhum valor revolucionário.

Krishnamurti - A cultura e o problema humano

Na jornada do autoconhecimento, os livros não têm importância

Pergunta: Como você aprendeu tudo isso que fala, e como chegaremos a conhecê-lo?

Krishnamurti: Esta é uma boa pergunta, você não acha? Pois bem; se posso falar um pouco sobre minha própria pessoa, saiba que não li nenhum dos livros que tratam dessas coisas, nem o Upanishads, nem o Bhagavad Gita, nem livros de psicologia; mas, como já lhe disse, se você observar sua própria mente, lá encontrará tudo. Assim, pois, quando você empreende a jornada do autoconhecimento, os livros não têm importância. É como entrar num país estranho onde se começa a ver coisas novas, a fazer extraordinários descobrimentos. Mas, veja, tudo isso é destruído, se você dá importância a si mesmo. No momento em que diz: “Descobri, sei, sou um grande homem porque descobri isto e aquilo”, nesse momento você está perdido. Se você tem de fazer uma longa viagem, deve levar pouquíssima bagagem; se deseja galgar grandes alturas, deve viajar leve.

Esta pergunta, por conseguinte, é importante, porque o descobrimento e a compreensão vêm com o autoconhecimento, pela observação dos movimentos da mente. O que você diz a respeito do próximo, sua maneira de falar, de andar, de olhar o céu, sua maneira de tratar as pessoas, de cortar um ramo de árvore — todas essas coisas são importantes, porque atuam como espelhos que lhes mostram exatamente como você é, se está vigilante, descobre “de novo” todas as coisas, momento por momento. 

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

A profissão correta não é ditada pela tradição

A maioria de nossas profissões é ditada pela tradição, ou pela cobiça, ou pela ambição. Em nossas profissões somos rudes, competitivos, ardilosos, espertos e extremamente autoprotetores. Se mostramos fraqueza, seja quando for, podemos cair; por isso é preciso que acompanhemos a alta eficiência da ambiciosa engrenagem do mundo dos negócios. Trata-se de uma luta constante para manter o controle, para ser sempre mais esperto e sagaz. A ambição jamais encontrará a satisfação definitiva; está sempre à procura de campos mais amplos para sua auto-afirmação.

Mas nos relacionamentos ocorre um processo bastante diferente. Nele é preciso haver afeição, consideração, ajuste, autonegação, concessões, não para conquistar, mas para viver com felicidade. Nele deve existir a tema auto-anulação, a liberdade em relação ao domínio, à possessividade, mas o vazio e o medo causam o ciúme e a dor no relacionamento. O relacionamento é um processo de autodescoberta, no qual existe uma compreensão maior e mais profunda. O relacionamento é um constante ajuste na autodescoberta; ele exige paciência, flexibilidade infinita e um coração sincero.

Mas como podem estar juntos auto-afirmação e o amor, a profissão e o relacionamento? Um é rude, competitivo, ambicioso; o outro é abnegado, atencioso, gentil; eles não podem ficar juntos. Com uma das mãos a pessoa lida com sangue e dinheiro, e com a outra tenta ser gentil, afetuosa, atenciosa. Como um alívio para suas profissões insensíveis e sem vida elas buscam consolo e bem-estar nos relacionamentos. Mas os relacionamentos não geram bem-estar, pois trata-se de um processo diferente de autodescoberta e compreensão. O homem ocupado tenta em sua vida de relacionamentos buscar o consolo e o prazer como uma compensação para o enfado da sua atividade. Sua ocupação diária de ambição, cobiça e crueza conduz, passo a passo, à guerra e às barbaridades da civilização moderna.

A ocupação correta não é ditada pela tradição, pela cobiça ou pela ambição. Se cada um estiver seriamente preocupado em estabelecer relacionamentos adequados, não apenas com uma pessoa, mas com todos, então ele encontrará a profissão correta. A profissão correta vem acompanhada da regeneração, da mudança no coração, não com a simples determinação de encontrá-la.

A integração só é possível se existir clareza de compreensão em todos os diferentes níveis da nossa consciência. Não pode existir integração entre amor e ambição, entre clareza e trapaça, entre compaixão e guerra. Enquanto profissão e relacionamentos se mantiverem afastados, haverá constante conflito e desgraça. Qualquer reforma dentro do padrão dualista é retrocesso; somente para além dele pode existir a paz criativa.

Krishnamurti - Sobre o Viver Correto

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